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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sigilo sobre reunião com pastores volta todas as suspeitas para Bolsonaro

Presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro - Clauber Cleber Caetano/PR
Presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro Imagem: Clauber Cleber Caetano/PR

Colunista do UOL

13/04/2022 16h46

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No recente festival de denúncias de corrupção no Ministério da Educação, o Centrão é a grande estrela. Seja pelas escolas virtuais anunciadas no Piauí, área de influência do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, ou pelos recursos de robótica enviados para escolas sem internet em Alagoas, reduto político de Arthur Lira (PP-AL), estão na mira os mesmos vilões de sempre, sob acusação de fisiologismo.

Nesse roteiro, o presidente Jair Bolsonaro seria um refém nas mãos de corruptos. No máximo, um cúmplice.

Mas não é bem assim.

O áudio revelado pela Folha de S. Paulo, em que o ex-ministro Milton Ribeiro explica em reunião que o atendimento aos pastores Gilson Santos e Arilton Moura estava entre as prioridades, por conta de um pedido especial de Bolsonaro, coloca o presidente no centro da suspeita.

Os pastores indicados por Bolsonaro não tinham nenhum cargo público e, apesar disso, ditavam ao responsável pelo Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE) quais prefeitos deveriam ser atendidos para negociação de recursos.

Os pastores indicados por Bolsonaro emitram propostas suspeitas ao presidente do FNDE, Marcelo da Ponte. "Me ajuda que eu te ajudo", disse um deles, conforme Ponte relatou à Corregedoria Geral da União.

Os pastores indicados por Bolsonaro são acusados por alguns prefeitos de pedir propina em vários formatos (dinheiro, barras de ouro, compra de bíblias) a pretexto de encaminhar pedidos de construção de escolas e creches no MEC.

Os pastores indicados por Bolsonaro têm fotos estampadas em bíblias ao lado do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro. Os exemplares foram pagos por prefeitos que negociavam verbas do MEC.

Em todos esses casos, Gilson e Arilton só puderam agir porque tiveram o aval do presidente da República.

Depois da maracutaia descoberta, Milton Ribeiro pediu demissão do Ministério da Educação e disse que iria usar o tempo livre para se defender das acusações. Até agora não deu explicação nenhuma. Faltou a depoimento marcado no Senado sem prestar a mínima satisfação.

Nessa patranha, falta a explicação do personagem principal: Jair Bolsonaro. Por qual motivo indicou a Milton Ribeiro os dois pastores como prioridade? De onde os conhecia? Por quais motivos propôs que pessoas sem cargo público agissem no MEC?

O jornalista Patrick Camponez, de O Globo, acrescentou a estas uma nova pergunta: quantas vezes o presidente se reuniu no Palácio do Planalto com Gilson e Arilton?

A resposta não veio. Foi barrada pelo Gabinete de Segurança Institucional, que decretou sigilo sobre a informação, com a ridícula alegação de que poderia colocar em risco a vida do presidente da República e seus familiares.

Com isso, o ocupante do Palácio do Planalto terá que se esmerar bastante para tornar crível a mentira com que diariamente brinda os seguidores fanáticos: "Não existe corrupção em meu governo".

A julgar pelo aparelhamento das instituições que deveriam investigá-lo, já se sabe que Bolsonaro tem muito a esconder.

O sigilo com que agora encobre informação tão simples, como a agenda de encontros com os dois pastores, denota algo mais.

O comportamento do presidente é típico de alguém que tem culpa no cartório.