Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Afogado em denúncias de corrupção, Bolsonaro repete: governo não é corrupto
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Se levarmos em conta o que diz Jair Bolsonaro, o Brasil tem o governo não-corrupto com o maior número de denúncias de corrupção da história. Estão aí o orçamento secreto, as mutretas na compra da vacina, o ex-ministro acusado de contrabando de madeira, os escândalos do MEC, as licitações estranhas da Codevasf. Mas o presidente repete: "Não existe corrupção em meu governo".
Os adultos sabem que, ao contrário dos filmes de magia, não adianta apenas dizer que um problema não existe para que ele desapareça. Por isso, Bolsonaro repete essa mentira para convencer os eleitores incautos e os fanáticos, enquanto toma providências para controlar os órgãos que deveriam investigar as denúncias.
Procuradoria-Geral da República, Polícia Federal, Receita Federal, Corregedoria-Geral da União — está tudo dominado. Ou ao menos boa parte dessas instituições.
O plano tem dado certo, já que nenhuma das maracutaias atribuídas ao governo foi devidamente investigada. Mas o ritmo de escândalos ficou tão acelerado nas últimas semanas que pode colocar em risco a tática avestruz do presidente, enfiar a cabeça na terra para fingir que nada de errado acontece.
É certo que as últimas pesquisas de opinião mostram uma melhora do status de Bolsonaro junto ao eleitor. Mas a ideia de integridade que o presidente divulga em suas falas convence cada vez menos brasileiros.
Pesquisa Modalmais/AP Exata divulgada na sexta-feira (8) mostra que nos primeiros dias de abril o tema "corrupção" foi o mais falado em posts do Twitter que mencionam o presidente Bolsonaro, chegando a 21,3%. Pela primeira vez, o índice é maior que de seu concorrente na corrida presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva, que teve 20,8% de menções associadas à palavra no mesmo período.
Outro indício é a reação irada nas redes sociais contra os senadores que retiraram seus nomes do requerimento de abertura da CPI do MEC. Tudo indica que os eleitores dos senadores Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), Styvenson Valentim (Podemos-RN) e Weverson Rocha (PDT-MA) não vão perdoar a deserção.
Pode ser que os cúmplices de Bolsonaro, infiltrados nas instituições que seriam responsáveis por investigar o governo, mantenham intacta a impunidade do presidente.
Mas se a imprensa continuar a desencavar escândalos da gestão bolsonarista no ritmo atual, os prejuízos para o presidente provavelmente serão inevitáveis.
Alardear honestidade afogado em um mar de lama pode ser útil para hipnotizar a claque de Bolsonaro, mas talvez não o bastante para convencer a maioria do eleitorado.
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