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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Atolado em denúncias, Bolsonaro dirá na TV que governo está 'sem corrupção'

Bolsonaro no vídeo do PL - Reprodução de vídeo
Bolsonaro no vídeo do PL Imagem: Reprodução de vídeo

Colunista do UOL

02/06/2022 13h34

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O Brasil inteiro já entendeu que Jair Bolsonaro vive em uma realidade paralela. Para o presidente, o país está melhorando em quase todos os aspectos e o que está piorando é culpa dos outros: STF, governadores, globalistas, presidente da Petrobras... Se os fatos o contradizem, pior para os fatos.

Uma amostra desse descolamento da vida real poderá ser observada hoje na TV. Bolsonaro aparecerá na telinha estrelando o horário político do PL, partido do Centrão ao qual é filiado. No fim do vídeo, o presidente recitará o lema "Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração, ninguém segura esse novo Brasil".

Todas as proposições do slogan são discutíveis, mas não poderia haver momento pior para o ocupante do Palácio do Planalto proclamar a erradicação da corrupção. O governo está atolado em denúncias de maracutaias de várias espécies, algumas já comprovadas.

Sob a complacência do procurador-geral da República, Augusto Aras, as acusações contra a gestão Bolsonaro se sucedem em escala cada vez maior. A inoperância de Aras, no entanto, não tem o condão de fazer com que os escândalos desapareçam, eles apenas não são apurados.

A maior fonte de corrupção é o orçamento secreto, um naco de R$ 20 bilhões em recursos públicos que o Executivo entregou ao Legislativo sem que haja possibilidade de fiscalização. Do pouco que se conhece sobre o destino desse dinheiro, descobriu-se a compra de tratores com preços até 259% acima do valor de referência; aquisição de caminhões de lixo em quantidade 800% superior a 2019; concentração de concorrências de pavimentação de estradas na empreiteira maranhense Engefort, que em várias delas concorreu sozinha; realização de licitação para compra de 3.800 ônibus escolares com preços acima do mercado e várias outras transações suspeitas.

Outra parte desses recursos foi parar no bolso de parlamentares, como a Polícia Federal diz ser o caso do deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL-MA), flagrado com maços de dinheiro em seu escritório político, em São Luís.

Em outras frentes de corrupção, não se deve esquecer que Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, saiu do governo depois de ser denunciado ao Supremo Tribunal Federal por suposta parceria com contrabandistas de madeira da Amazônia. E que Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, saiu da pasta denunciado por entregar a pastores de fora do serviço público o controle de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Os dois religiosos acusados, aliás, foram indicados a Ribeiro pelo próprio Bolsonaro.

A lista de escândalos é imensa. Inclui as acusações de rachadinha contra Jair — que por 15 anos teve em seu gabinete a servidora Wal do Açaí, que nunca pôs os pés em Brasília — seus filhos Flávio e Carlos. O senador Flávio voltou ao noticiário por justificar de uma forma inusitada a compra de sua mansão no Distrito Federal, por R$ 6 milhões. Disse que o dinheiro para o negócio veio de sua atuação como advogado, embora a Folha de S. Paulo tenha revelado que ele nunca advogou.

Mesmo diante dessa folha corrida, Bolsonaro dirá na TV que este é um governo "sem corrupção".

Também é questionável alardear que tem "Deus no coração" o presidente que ao comentar o assassinato de Genivaldo de Jesus, asfixiado com gás lacrimogêneo dentro de uma viatura por agentes da Polícia Rodoviária Federal, não se mostrou comovido e ainda chamou a vítima de marginal.

E quanto ao trecho "sem pandemia", a população vai se lembrar que Bolsonaro foi contra o isolamento social, o uso de máscaras e protelou o quanto pôde a compra de vacinas. Resultado: o Brasil é o segundo no mundo em número de mortes na pandemia.

Restou na palavra de ordem a frase "Ninguém segura esse novo Brasil". Diante do atual desgoverno, no entanto, muita gente pode imaginar que esse movimento seja ladeira abaixo.