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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

No Brasil de Bolsonaro, os médicos e os monstros se revelam

Jair Bolsonaro fala no Conselho Federal de Medicina - Reprodução de vídeo
Jair Bolsonaro fala no Conselho Federal de Medicina Imagem: Reprodução de vídeo

Colunista do UOL

28/07/2022 04h00

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Dezenas de médicos se reuniram ontem no Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, para receber o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição. Sob o olhar dos profissionais de saúde, Bolsonaro deu mais um de seus habituais shows de grosseria, mentiras e negacionismo.

Mais de dois anos depois do início da maior pandemia da história da humanidade, o presidente teve o desplante de manter a defesa do uso da cloroquina contra a covid-19, substância cuja ineficácia já foi amplamente demonstrada pelas principais entidades científicas mundiais.

Bolsonaro disse que não se vacinou e criticou a "interferência política na autonomia médica", omitindo que integrantes de seu governo chegaram a obrigar profissionais de saúde do Amazonas a receitar os medicamentos inócuos do tal "kit covid".

Fez um absurdo autoelogio pelo desempenho do governo na covid, ignorando o fato de o Brasil ter quase 700 mil mortos pela pandemia, o terceiro país com o maior número de óbitos.

Reservou comentários ofensivos para os senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL), respectivamente presidente e relator da CPI da Covid, a quem ironicamente chamou de "honestíssimos". O vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), recebeu de Bolsonaro uma alcunha digna da tosca mentalidade presidencial: "fala fino".

Como se não bastasse, ainda fez ataque ao processo eleitoral brasileiro - atualmente, o passatempo preferido do presidente.

As baixarias de Bolsonaro não surpreenderam ninguém. O chocante realmente foi a reação da maior parte da plateia, que pareceu se deliciar com cada mentira e cada afirmação negacionista do principal político do país.

Mesmo que o CFM tenha muitas vezes sido parceiro no desastre sanitário que o governo ajudou a potencializar na pandemia, espera-se tudo de uma plateia de médicos, menos aplausos ao negacionismo.

Também é deplorável que profissionais que deveriam ser maduros comportem-se como estudantes de 5ª série, gargalhando por conta das ofensas do presidente aos senadores.

O arremate veio com médicos aplaudindo de pé, um ou outro gritando: "Mito!".

Ao mesmo tempo que esse espetáculo lamentável acontecia no CFM, mais de 100 mil cidadãos brasileiros de vários setores de atividades se mobilizavam para assinar a Carta pela democracia, documento em defesa do Estado de Direito.

O principal fator de ameaça que levou à mobilização dos democratas atende pelo nome de Jair Bolsonaro.

Nesse momento crucial da história, a atitude diante do projeto de autocracia que alguns tentam fazer vingar no Brasil definirá quais são os verdadeiros patriotas.

Circunstâncias como essa costumam fazer vir à tona o que há de melhor e o que há de pior nas pessoas. O que se viu no CFM é prova disso.

Os médicos e os monstros estão se mostrando.

A parte boa é que quando a democracia estiver a salvo teremos a certeza de quem são aqueles com que poderemos contar.