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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com orçamento secreto do governo Cláudio Castro, maldição do Rio continua

Cláudio Castro defendeu trabalho de senadores na CPI da Covid - Rogerio Santana/Governo do Rio de Janeiro
Cláudio Castro defendeu trabalho de senadores na CPI da Covid Imagem: Rogerio Santana/Governo do Rio de Janeiro

Colunista do UOL

02/08/2022 11h07

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As histórias de terror passadas no Palácio Guanabara são bastante conhecidas até por quem não acompanha de perto a política do Rio de Janeiro. Os maiores vampiros a sugar ilegalmente fortunas dos cofres públicos têm sido os próprios governadores. É extensa a lista dos chefes do Executivo fluminense que foram parar atrás das grades por corrupção: Moreira Franco, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral e Pezão. Wilson Witzel não foi preso, mas saiu do governo por impeachment.

Cada vez que um novo governador assume, a população do estado torce para que as empresas assombradas que participam de licitações irregulares, os fantasmas que frequentam as folhas de pagamento e seres do pântano desapareçam da máquina pública. Tudo em vão.

Cláudio Castro assumiu o governo em 2021, depois que o governador de quem foi vice, Wilson Witzel, foi afastado por impeachment, sob acusação de desviar dinheiro que deveria ter sido usado em leitos e insumos para combate à pandemia.

Com tantos antecessores flagrados com a boca na botija, há sempre esperança de que o governante pense duas vezes antes de tentar alguma ilegalidade. Porém, pelo que se vê na série de matérias que Ruben Berta e Igor Mello publicaram no UOL, Castro não ligou muito para isso e manteve a maldição do Palácio Guanabara.

Dessa vez, o Halloween governamental é um misto das duas bruxarias mais recentes do meio político brasileiro: rachadinha e orçamento secreto.

Através da Fundação Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio), o governo Castro paga salário a 27 mil apadrinhados e aliados políticos do atual governador, sem que seus nomes sejam publicados em Diário Oficial e nem apareçam em documentos disponíveis para consulta. Aqui, temos uma nova modalidade de orçamento secreto.

Na reportagem de hoje, Ruben Berta e Igor Mello revelam que esses funcionários com cargos secretos sacaram R$ 226 milhões em espécie somente nos sete primeiros meses desse ano. O valor sacado representa 91% do que foi pago a esses fantasmas. Aqui, como observa o Ministério Público, a engenharia é perfeita para fazer rachadinha - prática em que o servidor que recebe o salário devolve boa parte do dinheiro para quem o apadrinhou no cargo.

Há suspeita de outras ilegalidades. "A realização de saques de dinheiro em grande volume, tal como acima retratado, constitui nítida afronta às normas de prevenção à lavagem de dinheiro", afirmaram os promotores do MP, que passaram a investigar o caso. Uma ação foi aberta na 15ª Vara de Fazenda Pública para apurar a tramoia.

Depois que o UOL noticiou o escândalo, o governo estadual suspendeu por um mês o projeto Casa do Trabalhador, que tem 9.000 cargos secretos, para que seja feita uma auditoria. Como se sabe, quando o acusado de infração investiga a si mesmo o resultado não costuma ser satisfatório.

Cláudio Castro tem muitas explicações a dar.

No palácio em que cumpre expediente, os fantasmas dos antecessores devem estar causando calafrios no chefe do Executivo.

A população do Rio espera que o MP identifique rapidamente os responsáveis e os beneficiários da maracutaia. As informações que vieram à tona até aqui são suficientes para relembrar os contos de terror que o estado viveu em anos anteriores. O descrédito do eleitor fluminense em seus governantes certamente foi decisivo para o resultado da última pesquisa de intenção de voto. O Ipec registrou quase 40% de entrevistados que não têm candidato a governador (29% dizem que vão votar branco ou nulo, 10% não sabem em quem votar).

Não é para menos.

Cada vez mais, o Palácio Guanabara é visto pelo eleitor fluminense como a casa do espanto.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que foi publicado, Wilson Witzel não foi preso. Ele sofreu impeachment.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL