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Grupos de PMs do DF difundem fake news e mensagens golpistas
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A coluna teve acesso a dezenas de memes, vídeos e mensagens postadas em grupos de WhatsApp criados e compostos por policiais do Distrito Federal, onde no dia 8 golpistas depredaram as sedes dos Três Poderes (veja acima a reprodução desse conteúdo).
Os integrantes são na maioria policiais militares, embora também haja alguns civis. Muitos são da reserva, mas é expressiva a participação de PMs da ativa.
Em três dias de observação de diálogos nesses grupos foi possível detectar:
- Publicações de falsos meios de comunicação relatando mentiras sobre o sofrimento de pessoas presas nas portas de quartéis ou durante os atos golpistas em Brasília;
- Memes que dão falsamente a entender que há censura no país para quem reclama do governo Lula;
- Fake news sobre quantias astronômicas que Lula teria depositado no Banco do Vaticano;
- Vídeo de um suposto criminoso que diz defender grupos golpistas e faz ameaças ao ministro do STF Alexandre de Moraes e a Lula;
- Fake news de que o ministro da Justiça, Flávio Dino, iria desarmar as polícias;
Após as invasões aos prédios da praça dos Três Poderes, a atuação da PM do Distrito Federal foi muito criticada. Soldados foram vistos mexendo no celular e comprando água de coco enquanto as depredações aconteciam ou estavam por começar. Poucos se dispuseram a enfrentar os invasores.
Por causa disso, o então comandante-geral da PM do DF, coronel Fábio Augusto Vieira, foi preso por determinação de Moraes.
Na corporação, em que boa parte dos integrantes são simpatizantes de Bolsonaro, a prisão do chefe foi mal recebida. Isso serviu para multiplicar ainda mais o conteúdo de desinformação e contestação ao resultado das urnas nesses grupos de WhatsApp.
Por dentro dos grupos de WhatsApp de PMs do DF
No grupo Conservadores DF, frequentado por policiais, circulou na segunda (16) postagem que tratava os eleitores de Lula como "jumentos", havia críticas à decisão de Moraes de arquivar pedido de prisão contra Dino, ataques ao ex-ministro petista José Dirceu e um meme em que o personagem da Disney Zé Carioca diz ao Pato Donald que no Brasil ninguém pode reclamar (uma alusão a censura).
No grupo da associação de policiais Cabe (Caixa Beneficente da PMDF), um participante que seria um coronel PM da reserva diz que esteve nos acampamentos golpistas e que participou das depredações do dia 8, onde afirma ter sido ferido na perna. Ele defende o impeachment de ministros do STF e de Lula, além de uma paralisação de caminhoneiros. "Se não, estaremos perdidos", escreveu.
Nesse mesmo grupo, foi citada uma falsa proposta de decreto que teria sido feita por Flávio Dino para que a Polícia Militar seja desarmada. Esse decreto não existe.
No grupo CFSd 95 (referência ao Curso de Formação de Soldados de 1995), foi postado na segunda-feira um vídeo de um homem que se faz passar por integrante de uma facção criminosa e diz que está preparando a "tropa" para resgatar os golpistas presos em Brasília. O homem —não identificado— faz ameaças a Moraes e a Lula.
Ontem, no grupo Força Reserva, que congrega policiais da reserva, da ativa e alguns civis, foi repassado um texto com orientações do "nosso presidente Jair Bolsonaro" sobre como os direitistas devem se comportar nas redes sociais diante de manifestações da esquerda.
Desde o último fim de semana, mensagens que correm nessas listas alertam para que se tome cuidado com o teor das mensagens postadas, já que "um delegado da PF" intimou o administrador de uma dessas listas a comparecer à Superintendência da PF, em Brasília, para esclarecer "participação, em ambiente virtual coletivo, de propagação de mensagens com conteúdo de desinformação, que podem caracterizar atos antidemocráticos".
A coluna procurou a Polícia Federal para saber se esses grupos estão sendo investigados, mas a resposta foi que "oficialmente, a posição é de que a PF não se manifesta sobre eventuais operações e investigações em andamento".
A PM do DF também foi procurada, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.
Policiais que não concordam com o teor das mensagens postadas nesses grupos lamentaram à coluna o nível de radicalização de alguns de seus colegas. Reconhecem que a maior parte da corporação é simpatizante de Bolsonaro, mas criticam especialmente um grupo menor de fanáticos bolsonaristas que dissemina desinformação.
A forma que a extrema direita pretende usar é a contaminação das instâncias oficiais com mensagens do subterrâneo bolsonarista."
João Cézar de Castro Rocha, historiador
Para ele, que estuda a narrativa de ódio do bolsonarismo, a divulgação desse tipo de conteúdo em grupos de policiais é de uma "gravidade enorme".
O pior legado de Bolsonaro é a bolsonarização das forças de segurança. Que mensagens assim circulem em grupos da PM é algo gravíssimo, mostra que a bolsonarização corrói por dentro as instituições. Não há democracia possível se não houver controle da desinformação."
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