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Mortes de crianças ianomâmis estão subnotificadas, diz Sonia Guajajara
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A situação dramática dos indígenas ianomâmis, de Roraima, pode ser ainda pior do que a divulgada. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, que esteve ontem naquela comunidade junto com o presidente Lula e outros ministros, diz que o número de crianças mortas por desnutrição na área pode ser maior que 570 vítimas, como se anunciou inicialmente.
"Temos indicações de que está subnotificado, porque não se tem uma precisão de quantas pessoas realmente morreram", disse ela à coluna. "A Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) acabava não fazendo esse mapeamento por falta de interesse, por falta de compromisso".
A ministra explica que o avanço da mineração ilegal associado ao abandono da região pelas equipes de saúde, permitido pelo governo Jair Bolsonaro, é a causa do quadro dramático. Para Sonia, Bolsonaro deve ser enquadrado no crime de genocídio.
"Como eles (integrantes do governo Bolsonaro) não identificaram isso? Como eles não pensaram em um plano de atendimento?", questiona.
Nessa entrevista, ela conta detalhes sobre a situação dos ianomâmis e manifesta a esperança de que agora finalmente o Brasil vai dar a devida atenção à questão indígena.
UOL - Qual o principal motivo desse quadro trágico da saúde dos ianomâmis?
Sonia Guajajara - A causa é a presença dos garimpeiros em território ianomâmi, isso não tem dúvida. Há em média trinta mil ianomâmis e agora temos cerca de vinte mil garimpeiros nesse território. Pode ser até mais, esse número está defasado. Esses garimpeiros no território levam insegurança para os ianomâmis, que não conseguem plantar, que não conseguem circular para procurar o alimento e que ficam tomando água contaminada de mercúrio. Então é muito preocupante, porque resulta em desnutrição de crianças e idosos.
Como está o atendimento de saúde a essa comunidade?
A Casa de Apoio da Saúde Indígena, em Boa Vista, tem cerca de 700 indígenas internados, num ambiente que comporta 300. São pessoas em atendimento ou aguardando atendimento de saúde pelo SUS. Mas o SUS também não comporta, não tem agilidade pra atender. As pessoas ficam ali aguardando atendimento, aguardando exames laboratoriais simples?
Desses 700, cerca de 170 já estão aptos a voltar para suas aldeias e não voltam por falta de transporte. Porque há mais ou menos seis meses a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) cancelou os contratos com a empresa que faz o percurso aéreo. Na maioria das aldeias o acesso é só aéreo e com esse cancelamento as pessoas não têm como voltar.
Como se chegou ao número de 570 crianças mortas por subnutrição nos últimos quatro anos?
Tem um dado público que estava do Ministério da Saúde de que foram 570 crianças mortas por malária, desnutrição ou contaminação de mercúrio nos últimos quatro anos. E ainda temos indicações de que está subnotificado, porque não se tem uma precisão de quantas pessoas realmente morreram. A Sesai acabava não fazendo esse mapeamento por falta de interesse, por falta de compromisso.
Agora vai se começar uma outra etapa de mapeamento com a equipe do da Força Nacional que vai estar lá e as Forças Armadas.
Olha a situação em que estão essas crianças, o mundo inteiro está olhando hoje para isso. Para a condição das crianças e adultos ianomâmis, que estão em estado trágico de saúde. Como eles (integrantes do governo Bolsonaro) não identificaram isso? Como eles não pensaram em um plano de atendimento?
Acredita que está caracterizado o crime de genocídio?
Sim. Eu acho que é um crime de genocídio porque houve abandono total. Se não tem agora uma ação emergencial pra reabilitar a saúde, eles iriam morrer. Bolsonaro desmontou o sistema de saúde, largou. E tem uma conivência ali das empresas de prestação de serviço que fazem o deslocamento, fazem aquisição de medicamentos, fornecimentos de insumos, que ninguém sabe porque não chega na ponta.
Mesmo antes de Bolsonaro, a sociedade brasileira não dava a devida atenção à questão indígena. E mesmo depois que circularam fotos de indígenas subnutridos, meses atrás, não houve a devida comoção. O Brasil vai finalmente dar atenção a esse problema?
Eu acho que agora nós estamos em um novo momento. Estamos despertando a sociedade para a questão indígena no Brasil. Acho que o ministério assume um papel importante nesse momento para dar essa visibilidade, para essa sensibilização.
O presidente Lula tem demonstrado um compromisso muito grande, tem demonstrado interesse de atuar, de agir, de respeitar e de restabelecer a situação da saúde. Tanto assim que de imediato chamou essa ação para instalar ali o atendimento emergencial.
Agora a ideia é um plano de ação que vai desde o transporte dos indígenas para as aldeias à instalação do hospital de campanha com a Aeronáutica para garantir o atendimento permanente. Além do plano de retirada dos garimpeiros.
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