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Deputado usa métodos do Escola Sem Partido e persegue professores em GO
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Em pelo menos dez decisões, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucionais leis de vários estados que pretendiam usar métodos do movimento Escola Sem Partido para censurar professores por abordar em sala de aula temas como política ou sexualidade. Apesar disso, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) instituiu em seu estado um esquema de delação contra os mestres nos mesmos moldes do projeto ilegal.
Nesse estilo inspirado no fascismo tem promovido uma verdadeira caça às bruxas, em especial nos colégios particulares. Como se sabe, o Escola Sem Partido é baseado na estupidez e no desconhecimento das noções mínimas de cultura. Também é nesses pilares que Gayer apoia a sua iniciativa obscurantista em Goiás.
A última vítima dessa empreitada infame foi uma professora que leciona História da Arte em turmas do Ensino Médio do Colégio Expressão, escola privada da cidade de Aparecida de Goiânia. Depois da divulgação de uma foto em que estava na sala de aula usando camiseta com a famosa frase do artista plástico Hélio Oiticica, "Seja marginal, seja herói", ela passou a ser alvo de uma campanha por parte do deputado, que a acusou de estar incentivando os alunos a serem bandidos.
Gayer criou um site para coletar denúncias contra professores que estejam "doutrinando" seus alunos. Recebida a denúncia, o parlamentar passa a usar as suas redes sociais para pressionar a escola a tomar providências. Isso já aconteceu várias vezes, inclusive resultando em demissão de um professor.
No caso da professora que deu aula com a citação a Hélio Oiticica o desfecho também foi a demissão.
"Aqui em Goiás a gente está vivendo uma situação aterrorizante", desabafou a professora à coluna (o nome será mantido em sigilo para evitar represálias). "O deputado criou uma plataforma em que incita as pessoas a denunciarem professores que falem de qualquer tema que ele considere como sendo uma doutrinação de esquerda, comunista e por aí vai".
Ela conta que no início do mês passado Gayer fez um encontro com mais de dois mil estudantes para incitá-los a "delatar" professores que estejam abordando temas corriqueiros da sociedade contemporânea, como questões de raça e gênero. "Todos esses temas tidos como sensíveis foram erradicados nas escolas goianienses", relata a professora.
No caso do Colégio Expressão, o deputado soube da demissão antes da própria professora.
"Fui 'acusada' de cumprir a minha função. Como uma professora de História da Arte não pode usar uma obra de arte estampada na camiseta?", questiona. "Estou assustada, abalada psicologicamente."
Presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás, que representa aqueles que lecionam no setor privado do estado, Railton Souza critica o deputado e diz que o patrulhamento promovido por ele deixou a categoria perplexa. "Gerou pânico entre professores, que agora se policiam em tudo o que falam, mesmo nos temas que estão na base curricular nacional e nos livros didáticos", diz Souza. "O que ele faz é censura."
Junto com a Confederação Nacional dos Trabalhadores de Estabelecimentos de Ensino, e outras entidades, o sindicato entrou com ação na Justiça Federal de Brasília em que solicita que as redes de Gayer sejam retiradas do ar. "Ele distorce a realidade e promove perseguição a professores, indo contra a legislação que garante liberdade para os profissionais", explica o sindicalista. Há ainda outra representação na Justiça estadual que pede reparação dos danos morais e materiais causados à professora e provocações ao Ministério Público Federal, Polícia Federal e Ministério Público do Trabalho.
Souza critica também os estabelecimentos de ensino que se curvam à pressão do parlamentar extremista. "Algumas escolas fazem coro a esse comportamento bolsonarista, mas o mais comum é sucumbir à pressão de mercado, temem perder alunos. Por isso, estamos fazendo representação contra alguns colégios que praticam a discriminação junto com o deputado. É lamentável".
Além de Goiás, esse tipo de ofensiva obscurantista pode ser identificada em outros estados, como Santa Catarina, onde o governo estadual está na mira do Supremo Tribunal Federal por colocar em prática uma lei nos moldes do Escola Sem Partido.
O caso da professora de Aparecida de Goiânia uniu completamente a classe no estado e chamou atenção do Brasil.
Não é para menos. O assunto é muito grave.
As forças democráticas já reagiram uma vez a ofensiva parecida, quando, há três anos, tornaram inconstitucional lei estadual baseada nas mesmas premissas reacionárias.
A tropa do atraso volta agora à carga. Que os brasileiros adeptos da democracia se unam novamente e derrotem essa modalidade de fascismo mais uma vez.
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