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Decisão nos EUA não influencia política de cotas no Brasil, diz Frei David
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Para o frei David Raimundo dos Santos, coordenador da Educafro, entidade pioneira na luta pela criação da política de cotas raciais no Brasil, é equivocada a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos que definiu como ilegais as ações afirmativas nas Universidades de Harvard e da Carolina do Norte. Na prática, isso retira o item "raça" da avaliação de novos alunos, prejudicando o acesso da população negra.
"A decisão vai na contramão dos estudos mais qualificados do mundo, com referência à necessidade de se criar instrumentos legais para equalizar oportunidades para cidadãos de um mesmo país", diz o Frei David.
A seleção para as vagas mais importantes de uma sociedade, acredita o responsável pela Educafro, precisa ter métodos mais justos. "As ações afirmativas são acertos e não erros, como equivocadamente decidiu a corte dos Estados Unidos , de maioria conservadora", diz ele. "Adotadas nas universidades brasileiras, são um dos instrumentos comprovadamente mais eficientes para se combater as consequências da tirania que é a exclusão". Na opinião do religioso, a compreensão atual de mérito é um "escárnio".
Frei David destaca que a compreensão e a prática das ações afirmativas adotadas no Brasil é totalmente diferente da iniciativa americana. "Temos aqui um método objetivo e não subjetivo. Esta subjetividade foi o motivo principal dos ataques, injustos, dos ministros conservadores da Suprema Corte", avalia ele, para quem a tendência é que os estados democráticos americanos imitem o Brasil, e não o contrário.
"A decisão norte-americana não irá influenciar em nada as ações afirmativas brasileiras. Vai torná-las o foco do debate de como gerar boas práticas no mundo empresarial e nas universidades", prevê o frei franciscano. "Acolhemos mais de 20 grupos de norte-americanos nos últimos dez anos que vieram para o Brasil para estudar o nosso fantástico método, que é juridicamente seguro".
A política de ações afirmativas em prática no Brasil se inspirou na Índia. "Está em constante processo de aperfeiçoamento, mas já é considerada a melhor para o mundo moderno", exalta o coordenador da Educafro. O método, que entre outras coisas criou a política de cotas para negros no acesso à universidade pública, foi aprovado na Câmara e no Senado. Contestada por políticos de direita, a iniciativa foi julgada no Supremo Tribunal Federal (STF) e ratificada por unanimidade.
Dados compilados pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) com base no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) divulgados no ano passado mostram que o número de alunos negros e pardos passou de 41% do total de matrículas da rede federal, em 2010, para 52%, em 2020. Segundo os especialistas, a Lei de Cotas é o principal motivo dessa mudança.
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