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Apoios de Tebet e Ciro são decisivos para a campanha de Lula

Simone Tebet declara apoio a Lula no 2º turno - Ronaldo Silva/Photopress
Simone Tebet declara apoio a Lula no 2º turno Imagem: Ronaldo Silva/Photopress

Colunista do UOL

05/10/2022 17h59

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* Cesar Calejon

Apenas três dias após a votação do primeiro turno, quando Lula (PT) consolidou uma vantagem de 6.187.159 eleitores a seu favor em relação a Jair Bolsonaro (PL), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) anunciaram formalmente as suas respectivas adesões à campanha do Partido dos Trabalhadores.

Terceira colocada na disputa presidencial, Tebet recebeu 4.915.423 (4,2%) votos, enquanto Ciro, que ficou com a quarta posição, atraiu 3.599.287 eleitores (3,04%). Somados, ambos registraram 8.514.710 (7,2%) votos.

Nesse sentido, as adesões imediatas de ambos à candidatura petista são fatores decisivos para a vitória de Lula e demonstram que as lideranças de partidos como o PDT, que aderiu integralmente à campanha do PT, e MDB, que liberou Tebet e outros doze diretórios estaduais para apoiar o petista, apostam mais na figura do ex-presidente como força política preponderante no Brasil ao longo dos próximos anos do que na imagem de Jair Bolsonaro.

Evidentemente, resta saber qual é a capacidade efetiva de transferência de votos de Tebet e Ciro para Lula. Contudo, é razoável ponderar que, no mínimo, metade dos votos de ambos, ou seja, 4.257.355 (3,6%) migrem para o ex-presidente. Mantidos os seus votos do 1º turno — o que já é, por si só, um desafio —, Lula atingiria a marca de 52% dos votos válidos no segundo turno, com algo próximo a 61,5 milhões de votos, o que, para além de ser suficiente no sentido de decidir o pleito, caracterizaria a maior votação que um presidente da República já recebeu na história do Brasil.

Esse é um aspecto fundamental a ser ressaltado para evitar a sanha golpista do bolsonarismo que, seguramente, será amplamente exacerbada caso o presidente não seja reeleito no próximo dia 30 de outubro. Apesar de serem extremamente importantes à campanha petista neste momento, os apoios críticos de Tebet e Ciro também são muito significativos para ambas as figuras.

Para Tebet, porque ela surge como uma forte figura política que é capaz de se comunicar diretamente com setores do agronegócio, das alas mais ao centro — e fisiologistas — da política nacional enquanto, ao mesmo tempo, ressoa entre as mulheres e as mães brasileiras. Poucos políticos reúnem tais qualidades na política brasileira.

"Apesar das críticas que fiz, depositarei nele o meu voto. Seu compromisso é com a democracia e Constituição, o que desconheço no atual presidente", afirmou. A parlamentar disse que não "cabe omissão" neste momento e que, "Até o dia 30 de outubro" estará nas ruas. "Meu grito será pela defesa da democracia e por justiça social", afirmou a emedebista, que almoçou hoje com o ex-presidente Lula na casa de Marta Suplicy.

Além disso, Tebet passa a ser um nome a ser considerando com mais proeminência nas próximas eleições e deverá assumir um cargo relevante no governo já em 2023, caso Lula seja eleito. Assim, ela fez a melhor campanha presidencial possível, a meu ver.

Esse não é o caso de Ciro Gomes, que desidratou profundamente, muito em virtude da sua estratégia de campanha, que buscou equiparar Lula e Bolsonaro. Contudo, ao apoiar Lula no segundo turno, ainda que de forma blasé, Ciro será capaz de resgatar parte do seu capital político, em caso de vitória do petista.

Desta forma, existem dois caminhos possíveis a partir de 2023: caso decida se retirar da vida pública, ele sai relativamente por cima, como uma figura importante que ajudou, ainda que tardiamente, a evitar a tragédia da reeleição bolsonarista. Caso decida seguir na atividade parlamentar, o capital político adquirido durante o segundo turno das eleições de 2022 poderá se provar fulcral para as suas futuras pretensões.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).