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OPINIÃO

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Nas urnas, católicos devem dar resposta à arruaça de Bolsonaro em Aparecida

Presidente Jair Bolsonaro e ex-ministro Tarcísio de Freitas - Reprodução/Facebook
Presidente Jair Bolsonaro e ex-ministro Tarcísio de Freitas Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

13/10/2022 10h27

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* Vinícius Rodrigues Vieira

Peço licença ao leitor, pois, desta vez, não lhes escrevo no papel de acadêmico. Quem fala é um cidadão brasileiro católico apostólico romano. Comecei a pensar neste artigo enquanto ia a Roma para compromissos profissionais. Rascunhei-o enquanto meus passos pelas ruas da cidade eterna levavam-me ao Vaticano, a colina onde se deu o martírio de São Pedro e onde está a basílica que leva seu nome. Finalizo-o sob o choque da arruaça que bolsonaristas fizeram neste 12 de outubro no maior santuário dedicado à Virgem Maria no mundo.

Em resposta a tal episódio, os católicos do Brasil — que já demonstram menor propensão a votar em Jair Bolsonaro (PL) — deveriam ir às urnas no segundo turno vestidos de azul, a cor do manto sagrado de Nossa Senhora Aparecida, cuja basílica foi profanada por covardes vestidos de amarelo, que adoram não o Deus feito homem no ventre de Maria, mas o vendilhão do templo da democracia, aquele que se ajoelhou perante a morte e entregou a vida de 400 mil compatriotas que, sem vacina, sucumbiram à pandemia.

Jair Messias Bolsonaro tem apenas no nome a alcunha de salvador, pois suas atitudes nada devem a um verdadeiro anticristo. Ele é o homem que diz que as minorias devem se curvar à maioria. Caro irmão, cara irmã católica: sabia que em menos de 10 anos devemos ser pela primeira vez uma minoria religiosa no Brasil? Não vejo problema em conviver com uma maioria evangélica ou de qualquer outra fé, mas me preocupa o poder dos pastores dentro da lógica bolsonarista.

Quando formos minoria, será que sacerdotes que mais pensam no bolso e na política do que em levar a palavra de Cristo sentir-se-ão livres para atacar os símbolos católicos? Lembrem-se, caríssimos, dos chutes desferidos por um pastor da Universal contra a imagem de Aparecida em 1995: hoje, essa mesma igreja é aliada incondicional de Bolsonaro e comanda o Republicanos, partido de Tarcísio de Freitas, candidato do presidente ao governo de São Paulo.

Pensem, ainda, na ação de evangélicos intolerantes — uma minoria no segmento, claro — contra terreiros das religiões de matriz afro-brasileira: hoje são eles a terem imagens quebradas e templos incendiados.

Enfim, quem assegura que, amanhã, não seremos nós as vítimas do fanatismo político-religioso de modo constante tal como fomos neste 12 de outubro? Não se deve misturar religião com política, mas, quando um chefe de Estado inepto como Bolsonaro embaralha esses dois domínios, não podemos ser ingênuos. No longo prazo, o risco de perseguição a quem é minoria religiosa ou, sendo parte da maioria, não se conforma integralmente a supostos dogmas jamais pode ser desprezado.

Por isso, solidarizo-me com os cristãos não católicos e membros de quaisquer religiões que querem se libertar do jugo bolsonarista, mas são oprimidos pelos seus supostos irmãos de fé tomados pelo fanatismo político e líderes religiosos que sacrificam a democracia e a própria religião. São os Judas Iscariotes da atualidade. O apóstolo, que até hoje é sinônimo de deslealdade, entregou Cristo aos romanos por 30 moedas de prata. Pastores imitam-no ao destruir políticas públicas e a própria democracia em troca de barras de ouro reluzentes — expressão-mor da covardia de quem diz defender o sagrado, muito embora se entregue ao profano na primeira oportunidade.

Se tivessem vivido na Roma Antiga, os camisas-amarelas que agrediram a imprensa e vaiaram sacerdotes católicos em Aparecida teriam sido aqueles a se regozijar ao ver cristãos devorados por leões. Não à toa votam em alguém que ironizou pessoas que se mataram na pandemia e imitou aqueles que, com covid, faleceram sufocados diante da inércia do poder público.

Amarelo virou a cor dos covardes. O azul que protege nossa mãe negra é símbolo de esperança e paz. Para além das convenções religiosas, o manto de Aparecida esteve como metáfora na conquista esportiva que uniu o Brasil pela primeira vez independentemente de credo, raça e origem social. O então chefe da delegação brasileira na Copa de 1958, o empresário Paulo Machado de Carvalho, disse que as camisas azuis com as quais jogaríamos seriam como o manto de Aparecida.

Questões religiosas à parte, o fato é que, mesmo saindo atrás da anfitriã Suécia, vestida de amarelo, viramos o placar e conquistamos nosso primeiro título mundial no futebol masculino por 5 a 2.

Ecoando o espírito de 1958, nestas eleições, o azul pode se tornar a cor do triunfo da democracia contra a intolerância político-religiosa. Carvalho, aliás, nada estaria contente com o fato de duas das empresas de comunicação que já pertenceram a sua família, a Record e a Jovem Pan, terem se tornado bolsonaristas. Além de estar associado à covardia, amarelo lembra a derrota humilhante do 7 a 1, além de nosso esfacelamento como nação diante de canalhas de toga, coturno e Bíblia na mão — os vendilhões da igreja e da democracia.

Por isso, independentemente da religião, se você é contra a mistura de política e fé, vá às urnas de azul no próximo dia 30. Quem é católico e devoto de Nossa Senhora Aparecida tem uma razão a mais para fazê-lo: livrar-se daquele que, amanhã, quer claramente que nos curvemos a um governo de pastores nada alinhados com a palavra de Deus.

As cenas de 12 de outubro sugerem, novamente, que o Bolsonaristão que se anuncia é anticatólico, anticristão e desumano. Que aqueles com sede de justiça, crentes ou não, sejam saciados no altar da democracia em 30 de outubro.

* Vinícius Rodrigues Vieira é doutor em relações internacionais por Oxford e leciona na Faap e em cursos MBA da FGV.