O 'motivo para a troca' na PF se confirma com operação
"Mais um motivo para a troca", escreveu o presidente Jair Bolsonaro por WhatsApp, no dia 23 de abril, a Sergio Moro, seu então ministro da Justiça e da Segurança Pública — segundo mensagens divulgadas pelo próprio Moro após pedir demissão, no dia seguinte, com a justificativa de que não aceitava que o presidente Jair Bolsonaro fizesse mudanças no comando da Polícia Federal sem uma explicação plausível.
Antes de fazer o comentário sobre a "troca", Bolsonaro havia compartilhado uma notícia do site O Antagonista na qual se informava que deputados bolsonaristas estavam na mira de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre disseminação de fake news contra ministros da corte.
A Folha de S.Paulo depois revelou que Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, Eduardo Bolsonaro, deputado federal, ambos filhos do presidente, também são citados no âmbito do inquérito.
Nesta quarta-feira (27), o "motivo para a troca" mencionado por Bolsonaro em sua mensagem para Moro foi confirmado. Alexandre de Moraes, ministro do STF que conduz o inquérito de fake news, expediu mandados de busca e apreensão em endereços de políticos, empresários e militantes digitais em diversos estados.
Também determinou que oito deputados bolsonaristas sejam ouvidos pela PF no âmbito das investigações. Era disso que tratava a reportagem que incomodou Bolsonaro.
O presidente nega que queria fazer mudanças na direção-geral e em superintendências regionais da PF para defender interesses políticos pessoais. Inicialmente, alegou que a mudança tinha como propósito ter mais eficiência na PF e, mais recentemente, passou a justificar essas trocas por estar insatisfeito com a "segurança" de sua família.
Após a demissão de Moro, por determinação de Moraes, o novo comando da PF ficou impedido de trocar a equipe de delegados que fazem a investigação de fake news — tornando o 'motivo para a troca' pretendida por Bolsonaro, pelo menos nesse caso, inócuo.
Esse inquérito do STF já produziu algumas anomalias, entre as quais a maneira como foi criado e um episódio de censura à imprensa, mas gerou também a "fumaça no cano da arma" que pode servir de prova de que a interferência de Bolsonaro na PF tem, sim, motivação política.
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