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Diogo Schelp

Bolsopetismo ou bolsochavismo: o que define melhor esse governo?

O presidente Jair Bolsonaro: populismo militarista -
O presidente Jair Bolsonaro: populismo militarista

Colunista do UOL

11/05/2020 17h19

Nos últimos dias, as hashtags #bolsopetismo e #DireitaContraBolsopetismo ganharam as redes sociais. A expressão "bolsopetismo" apoia-se na percepção de que bolsonarismo e petismo têm mais em comum do que seus militantes gostariam de admitir.

Os dois movimentos políticos seriam, como no reflexo de um espelho, idênticos, mas com imagens invertidas. Ambos escolheram o ex-ministro da Justiça e ex-juiz federal Sergio Moro como saco de pancadas, porque veem nele a maior ameaça a seus projetos de poder; ambos atribuem à imprensa a culpa por tudo aquilo que não gostariam de ver exposto à opinião pública e ambos acreditam cegamente na narrativa política de seus líderes de traços messiânicos.

Fazem parte da lista também as semelhanças entre Lula e Bolsonaro: os dois têm filhos enrolados, os dois fizeram pouco caso de dramas enfrentados por brasileiros ("marolinha" da crise de 2008, no caso de Lula; "gripezinha", no caso de Bolsonaro) e por aí vai. Eu poderia citar também a adesão de ambos à política do toma lá dá cá na relação com o Congresso Nacional.

Muitas das semelhanças, porém, são circunstanciais, dizem respeito a um estilo de governar pautado pelo personalismo ou simplesmente refletem traços comuns de todos os movimentos que se encontram nos extremos políticos. De resto, bolsonarismo e petismo têm mais diferenças do que semelhanças.

A expressão que mais se aproxima de uma definição que revela as contradições do presidente Jair Bolsonaro e de seu movimento político é "bolsochavismo". Como hashtag (#bolsochavismo), o termo até encontrou certa popularidade no Twitter, apesar de não ter o mesmo apelo provocativo de seu similar que recorre a uma comparação doméstica, com o PT.

A analogia entre bolsonarismo e chavismo, o movimento político inaugurado pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, é mais adequada porque ambos se assemelham por algo que os define na sua essência: o populismo de traço militarista.

São movimentos populistas porque nasceram da visão redentora de um líder carismático, sem papas na língua, que se diz amparado pelo povo na disputa contra as "elites" e o establishment político.

E são militaristas porque buscam legitimidade pela força, seja com respaldo em instituições oficias, seja em milícias. Hugo Chávez, um coronel com histórico de indisciplina, buscou amparo nas duas. Além de promover generais e outros militares a altos postos do governo e de empresas estatais e de dar sucessivos aumentos salariais à caserna, confiou-lhes o controle de atividades comerciais e financeiras. Em suma, Chávez corrompeu as Forças Armadas de sua país — ou pelo menos a parcela que se deixou corromper.

Por garantia, criou organizações paramilitares, as milícias chavistas, que respondiam a seu comando direto. Seu sucessor, Nicolás Maduro, herdou todo esse aparato e aprofundou-o.

O traço militarista do movimento bolsonarista é evidente. Bolsonaro, também um ex-militar com histórico de indisciplina, atraiu os militares para o núcleo de seu governo desde o princípio. E agora trata de aprofundar essa interdependência. Ele está ainda distante de corromper as Forças Armadas como fez Chávez, afastando-as de seu compromisso constitucional, mas a intenção é claramente esta.

Bolsopetismo ou bolsochavismo. Escolha sua hashtag.