José Serra e o raio moralizador da Lava Jato
Alguns anos atrás, quando o Brasil ainda era governado pelo PT e a Operação Lava Jato estava em seu auge, escutei de um conhecido que havia um "moralismo" no clamor dos cidadãos brasileiros contra os políticos corruptos. Fiquei intrigado com uso daquela expressão, com clara conotação negativa, para a agenda anticorrupção. Como se exigir uma conduta ilibada na gestão pública fosse o equivalente a defender comportamentos antiquados, a exemplo de namorar só de mãos dadas, sem beijos e sem amassos, até casar.
Descobri, depois, que "moralismo" havia entrado no vocabulário do petismo para desqualificar a Lava Jato e seus defensores. "Moralismo" no seguinte significado apresentado pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: "consideração moral inconsistente por estar separada do sentimo moral, por ser baseada em preceitos tradicionais irrefletidos ou por ignorar a particularidade e a complexidade da situação julgada".
Mas o clamor anticorrupção era moralizador, não moralista. "Moralizador" no sentido de "que ou aquele que defende os princípios da moral; difundindo-os entre as pessoas". A Operação Lava Jato, com todos os erros que seus protagonistas podem ter cometido no percurso das investigações e dos processos, foi um raio moralizador que caiu sobre o país, com efeitos que são sentidos até hoje.
A denúncia de lavagem de dinheiro feita nesta sexta-feira (3) pelo Ministério Público Federal contra o senador José Serra (PSDB/SP) e sua filha Verônica Allende Serra é um lembrete de que a Lava Jato e seus desdobramentos não atingiram apenas figuras do PT ou dos partidos do centrão que atualmente estão se aboletando no governo Bolsonaro.
As suspeitas de movimentações de montantes vultosos de dinheiro em contas no exterior, que vão além de datas de fatos que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou como prescritos, são graves. É de interesse dos contribuintes que o processo avance e as denúncias sejam devidamente esclarecidas e julgadas, como foi feito com as acusações que levaram à condenação do ex-presidente Lula por corrupção, entre outros crimes, à soma de 26 anos de prisão.
Punir o uso de dinheiro público em benefício pessoal ou a tentativa de ocultar a origem de recursos não é moralismo. É fazer o que é certo.
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