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Diogo Schelp

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro ameaça romper com a ordem constitucional, mais uma vez

O presidente Jair Bolsonaro -  Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro Imagem: Marcos Corrêa/PR

Colunista do UOL

01/06/2021 14h26

Trata-se de um tipo de ameaça velada tão corriqueiro nas falas do presidente Jair Bolsonaro que quase passa despercebido. Nesta terça-feira (1º), em discurso durante anúncio de patrocínio esportivo da Caixa, Bolsonaro afirmou respeitar a Constituição, mas deixou claro que isso pode mudar.

"Nós não tomamos nenhuma medida que ultrapassa as quatro linhas da Constituição, mas pode ter certeza, se porventura tomarmos, todos os 22 ministros estarão perfeitamente alinhados conosco. Acima do Poder Legislativo, do Poder Executivo e do Poder do Judiciário, está o poder do nosso povo", disse Bolsonaro, depois de criticar governadores e prefeitos que adotam medidas de restrição para conter a disseminação do novo coronavírus na população.

É a tática do "assopra e depois morde" que se tornou comum na retórica presidencial. Ou seja, Bolsonaro começa fazendo considerações autoelogiosas, apresentando-se como um grande democrata, e, em seguida, sugere que essa postura tem um limite — e ameaça cruzá-lo a qualquer momento.

Ele vem fazendo essa ameaça de maneira recorrente. "Tenho conversado muito com o Braga Netto, nosso ministro da Defesa. Mais do que obrigação, tenho certeza que vocês agirão dentro das quatro linhas da Constituição Federal se necessário for. Espero que não seja necessário", disse Bolsonaro no dia 27 passado. Aqui, ele falou em agir dentro das "quatro linhas da Constituição" para se referir à possibilidade de recorrer a uma intervenção das Forças Armadas para impor o que ele chamou de volta à "normalidade".

Na declaração deste 1º de junho, Bolsonaro faz, também, o apelo populista ao "poder do nosso povo" para relativizar o respeito constitucional à independência dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

Ora, todo poder emana do povo, mas o povo não deu a Bolsonaro o poder de interpretar a Constituição da maneira que lhe convém nem de desrespeitá-la, como ameaça fazer.