Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Bolsonaro usa problema de saúde para atacar PSOL e PT indevidamente
As teorias conspiratórias são uma praga da política nacional. Em 2018, quando o então candidato presidencial Jair Bolsonaro foi esfaqueado por Adélio Bispo em Juiz de Fora (MG), circulou em alguns nichos de esquerda a versão de que tudo não passava de uma armação para ajudar a elegê-lo. Já entre os bolsonaristas vingou a convicção, incentivada por familiares e pessoas próximas ao candidato, de que se tratava de um atentado com as marcas de partidos de esquerda como o PT e o PSOL, ao qual Bispo havia sido filiado.
Agora, acometido por um problema de saúde que pode ser consequência de uma sequela da facada, Bolsonaro — ou quem quer que esteja administrando o seu perfil no Twitter — volta a usar o episódio para se apresentar como mártir de um complô partidário.
"Mais um desafio, consequência da tentativa de assassinato promovida por antigo filiado ao PSOL, braço esquerdo do PT, para impedir a vitória de milhões de brasileiros que queriam mudanças para o Brasil", afirmou a publicação em sua conta na rede social, completando que aquele foi um "atentado cruel não só contra mim, mas também contra a nossa democracia".
Trata-se de uma acusação indevida e leviana, cujo único propósito é obter ganhos políticos e eleitorais, num momento em que o presidente se vê acuado pela CPI da Covid e por uma reprovação popular recorde.
Bolsonaro foi, sim, vítima de um atentado cruel contra sua vida em 2018. O criminoso, Adélio Bispo de Oliveira, está preso. Mas a Polícia Federal, em duas investigações separadas, e o Ministério Público Federal concluíram que ele agiu sozinho e sem mandantes.
Não há absolutamente nada que ligue o ataque contra Bolsonaro a qualquer conspiração envolvendo partidos ou mesmo grupos ou pessoas vinculadas a partidos políticos.
Quando um governante tem problemas de saúde ou precisa passar por uma cirurgia delicada, deve-se sempre acompanhar o caso com preocupação — seja em respeito à pessoa, seja pela importância que ela tem para a vida nacional e para os rumos do país.
Usar um episódio como esse para fazer ataques políticos a adversários e insinuações indevidas é, também, um atentado contra a democracia.
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