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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula vira alvo das narrativas apocalípticas que espalhou

Colunista do UOL

16/08/2022 09h01

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Comentei, na Live UOL de segunda-feira (15), os boatos apocalípticos espalhados entre a comunidade evangélica por aliados de Jair Bolsonaro, como o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), sobre o fechamento de igrejas em eventual governo do PT.

"Existem muitas formas de se fechar uma Igreja. Uma delas é calando os pastores ou obrigando religiosos a terem condutas antibíblicas. A igreja fisicamente estará aberta, mas, na prática, estará fechada", disse o pastor, ajustando mas mantendo o discurso, após a publicação de reportagens sobre a narrativa que circula nos bastidores.

Feliciano tem classificado Lula, seu antigo aliado, como a "expressão viva do mal" no Brasil.

No fim de semana, o deputado admitiu que chegou a alertar seus fiéis sobre uma perseguição lulista que poderia culminar, segundo ele, no fechamento de igrejas.

A declaração levou o PT a estudar acioná-lo na Justiça por fake news - um assunto bem conhecido do partido.

Alvos da vez, os petistas já estiveram do outro lado, fazendo o mesmo com outro segmento do eleitorado.

Contra a ex-ministra Marina Silva, por exemplo, também espalhavam boatos apocalípticos entre a população de baixa renda, dizendo que, em caso de vitória da então candidata à presidência, não haveria mais comida na mesa dos brasileiros.

Contra qualquer rival que vencesse as eleições, espalhavam ainda que iria acabar com o Bolsa Família.

O PT consolidou esse tipo de comportamento nas campanhas eleitorais, usado agora contra o próprio partido em um segmento que ele não consegue dominar.

Lula não fechou igrejas enquanto esteve no poder, mas, moralmente, também pesa contra ele sua complacência com ditadores amigos, como Daniel Ortega, da Nicarágua, que, apertando o cerco contra opositores, fechou emissoras católicas e prendeu um bispo, como informou o Estadão em 11 de agosto.

No fim de 2021, embora o regime de Ortega já tivesse prendido sete candidatos de oposição nos meses que antecederam sua conquista do quarto mandato consecutivo, Lula questionou, em entrevista ao jornal espanhol El País:

"Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não? Por que o Felipe González [primeiro-ministro da Espanha entre 1982 e 1996] pode ficar 14 anos no poder? Qual é a lógica?"

A entrevistadora então respondeu que Merkel e González não prendiam opositores.

A ditadura nicaraguense, portanto, é uma das "democracias" defendidas por Lula, como mostrei em outra rádio em 23 de novembro do ano passado, lembrando também o discurso do petista na 17ª reunião do Foro de São Paulo em 2011:

"Em nenhum momento, por mais acusado que esse companheiro [Ortega] fosse, ele deixou de acreditar de que o caminho da democracia que a Frente Sandinista tinha optado era o melhor para a Nicarágua."

Quem avaliza ataques com mentiras e até hoje passa pano para ditadores pode até rebater boatos alheios que não se justificam e que devem ser repudiados, mas não tem moral para posar de "democrata", à frente de campanhas limpas contra o fascismo.

O feitiço infame virou contra o feiticeiro.

Na Live UOL, falamos também da participação de Jair Bolsonaro (PL) e da primeira-dama, na marcha para Jesus; das críticas de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) à fuga dos dois principais candidatos dos debates presidenciais; e do procurador-geral da República, Augusto Aras, que afirmou que, se Bolsonaro perder as eleições e se recusar a deixar o Planalto, será uma "afronta à democracia".

Com Madeleine Lacsko, debato os principais assuntos do país diariamente, das 17h às 18h, com transmissão ao vivo nos perfis do UOL no YouTube, no Facebook e no Twitter.