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Saiba quem é o pastor responsável pelo boato de que o PT vai fechar igrejas
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A fake news se espalhou como rastilho de pólvora nos templos evangélicos nestas últimas semanas; sem ninguém saber como surgiu a "notícia" de que, se Lula voltar ao governo, o PT vai fechar as igrejas.
Por mais absurdo que isso possa parecer, a maioria dos fiéis acreditou, como apurou levantamento feito durante um mês pela rádio CBN.
Esse boato é capaz de causar um estrago maior na campanha do petista do que todos os caminhões de dinheiro para a compra de votos, que já começaram a ser despejados pelo governo, num país onde 31% da população é formada por evangélicos, segundo pesquisa Datafolha de 2019, no primeiro ano de governo Bolsonaro.
Hoje, o índice deve ser bem maior, com a multiplicação de templos pelo Brasil afora, formando a maior base de apoio do presidente, o que explica a ofensiva da sua campanha nesse nicho do eleitorado, com a participação de Michelle, a primeira-dama terrivelmente evangélica.
Com a maior cara de pau, sem citar nenhum fato concreto, o deputado e pastor bolsonarista Marco Feliciano (PL-SP), um dos mais próximos do presidente Bolsonaro, admitiu à CBN que ele é o responsável pela campanha de medo espalhada com essa história de que Lula vai fechar as igrejas evangélicas.
"Conversamos sobre o risco de perseguição, que pode culminar no fechamento de igrejas. Tenho que alertar meu rebanho de que há um lobo nos rondando, que quer tragar nossas ovelhas através da enganação e da sutileza. A esmagadora maioria das igrejas está anunciando a seus fiéis: tomemos cuidado".
Na guerra religiosa do "bem contra o mal" declarada pelo presidente, na atual campanha eleitoral demônios, espíritos do mal, rebanhos, lobos e ovelhas ocupam o lugar antigamente ocupado por programas de governo e promessas para a melhoria das condições de vida do povo.
No último levantamento do Datafolha, está o resultado desta ofensiva: Bolsonaro superaria o petista em 10 pontos percentuais (43% a 33%) em uma eleição só com os votos de eleitores evangélicos. Matéria publicada hoje no jornal O Globo informa que "entre dezenas de fiéis ouvidos pela CBN, nenhum soube explicar de onde surgiram os boatos da `ameaça da esquerda´, mas a maioria acredita nelas".
Assim como devem acreditar também que as urnas eletrônicas não são confiáveis e que os lares brasileiros estão ameaçados pelo "comunismo", caso o PT volte ao poder, como o presidente repete, dia sim e no outro também.
A exemplo de Feliciano, um pastor da Assembleia de Deus, Bolsonaro também não se preocupa em apresentar provas das suas denúncias porque o rebanho simplesmente acredita em tudo o que o seu "Mito" diz.
"Se a esquerda entrar, eles tentarão fazer isso, pois não gostam dos evangélicos. Já vi nas redes sociais candidato falar que vai proibir a pregação em praças públicas", diz Fátima Dantas, da comunidade da Igreja Quadrangular de Pari.
Em que redes sociais ela viu isso? Qual foi o candidato que falou tal heresia? Isso não vem ao caso. No mundo paralelo em que vicejam Felicianos e Bolsonaros, fake news fazem parte da paisagem e circulam como um vírus sem vacina. O objetivo é criar confusão, medo, insegurança e, se possível, o caos, se o resultado das urnas lhes for desfavorável.
Sem se dar conta da gravidade dessa boataria entre as camadas mais pobres da população, o coordenador de comunicação da campanha de Lula, Edinho Silva, diz que já foi identificada a disseminação de fake news nos templos e o PT estuda formas para rebatê-la.
"A notícia, além de falsa, é absurda. Foi Lula quem regulamentou, em 2003, a liberdade de constituição de igrejas no país. Se tem alguém que governou respeitando a religiosidade, em especial a evangélica, foi ele".
Enquanto o PT estuda, a boataria se espalha e, a cada dia que passa, aumenta o estrago na campanha petista que ainda procura uma forma de dialogar com o segmento evangélico, ou seja, um terço do eleitorado, a seis semanas da eleição.
Parece que ninguém se lembra da baixaria na campanha presidencial de 1989, quando Fernando Collor usou os mesmos métodos para instilar o medo na população e proliferaram os boatos de que o PT iria ocupar casas e terras, e muita gente também acreditou.
Para além das análises acadêmicas de cientistas políticos, é muitas vezes nesse submundo da desinformação, hoje amplificada nas redes sociais, que muitas vezes se pode decidir uma eleição.
Como ensina o próprio pastor bolsonarista Marco Feliciano, "tomemos cuidado".
Depois da porteira arrombada, fica difícil provar ao rebanho que focinho de porco não é tomada e a terra não é plana.
Vida que segue.
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