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Biden contraria aliados na tentativa de salvar as aparências no Afeganistão
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Quando estudamos técnicas de negociação, usualmente somos alertados para os perigos de barganhar por posições. Segundo especialistas como William Ury, Roger Fisher e Bruce Patton, nesse tipo de situação, tendemos a nos enredar e nos comprometer com aquilo que inicialmente defendemos. Na tentativa de "salvar as aparências", os interesses primários e mais substantivos correm o risco de ficar em segundo plano enquanto procuramos conciliar ações futuras com posições do passado.
Foi exatamente o que vimos acontecer no mais recente encontro do G7 sobre o Afeganistão. Os líderes dos sete países mais ricos do mundo (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão) tentaram estabelecer um diálogo a fim de coordenar a repatriação de seus cidadãos, gerenciar fluxos migratórios e definir parâmetros para o diálogo com o Talibã.
O encontro, no entanto, foi marcado pela intransigência do presidente Joe Biden em manter a data de 31 de agosto como limite para a desocupação, enquanto os demais países pediam por um adiamento deste prazo.
Biden, que já foi desmoralizado pelas cenas da tomada de Cabul após negar que isso aconteceria, preferiu desagradar os aliados em vez de correr o risco de ser interpretado como um presidente que se humilha diante do Talibã. Reforça, com isso, a ideia de que a intenção de governar com os aliados é válida até a página dois.
Donald Trump, seu antecessor, negociou um acordo com o Talibã sem falar com os parceiros europeus. Biden seguiu com os planos de retirada minimizando o papel da Otan e também deixando de consultar os aliados. Sem surpresa, não houve menção à coordenação multilateral nos primeiros discursos feitos pelo presidente dos Estados Unidos após a instauração da crise.
Desde a reversão de expectativas da última semana, a popularidade de Biden chegou ao pior estágio desde que ele tornou-se presidente. Pela primeira vez, sua desaprovação superou a aprovação. O próprio tema da saída do Afeganistão, que parecia ponto pacífico na sociedade norte-americana, com mais de 70% de apoio popular, também sofreu revés, ficando abaixo de 50%.
Para além da opinião pública norte-americana, as pressões domésticas são enormes e a gestão da crise se transformou em um concurso de vontades dentro dos Estados Unidos. Biden tenta administrar alas vocais do próprio partido, que endereçam críticas à forma como gerencia a situação. Ao mesmo tempo, também tenta mapear de que forma os danos causados pela crise no Afeganistão podem reverberar sobre as eleições legislativas de meio de mandato, que ocorrerão em 2022, quando os republicanos tentarão recuperar o comando do Congresso.
Em meio a todas essas tensões, o presidente precisa, ainda, desviar da cobertura ácida feita pela imprensa, assim como tem de gerenciar grupos de interesse com especial atenção no Oriente Médio, como é o caso do complexo industrial-militar, que mobiliza recursos e redes significativas em Washington.
Há quem acredite que Biden mantem decisões impopulares como essa por reconhecer que será um presidente de um mandato só. Estaria disposto, com isso, a sacrificar capital político em nome do que "precisa ser feito". Por outro lado, o apego de Biden em "salvar as aparências", mesmo diante da possibilidade de outro baque até o fim desse mês, também pode soar como um sinal de insensatez. A ver.
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