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Sem legitimidade, Brasil vai ao encontro do G20 vender fumaça
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Nos próximos dias, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), acompanhado de ministros e secretários, participará do encontro do G20 em Roma, na Itália.
A expectativa é que as lideranças dos 20 países mais ricos do mundo discutam três temas prioritários: a retomada econômica pós-pandemia, as mudanças climáticas e os desafios relacionados à agenda de saúde pública global.
Ao falar em nome do governo brasileiro, o secretário de Comércio Exterior do Ministério de Relações Exteriores, embaixador Sarquis José Buainain Sarquis disse, em entrevista recente, que o Brasil deverá tratar fundamentalmente de aspectos ligados a vacinas, comércio, meio ambiente e desenvolvimento durante o encontro.
Na primeira chave, há expectativas de que defenda o acesso ampliado de imunizantes contra covid-19 para países em condição de maior vulnerabilidade e a diversificação da capacidade de produção de vacinas no sul global.
Na segunda, o Brasil deve reforçar a defesa do livre comércio e criticar programas nacionais ligados a subsídios agrícolas, principalmente praticados por Estados Unidos, países europeus, China e Índia. O argumento do governo é que eles distorcem artificialmente os preços dos produtos, afetando a competitividade e comprometendo o abastecimento e a segurança alimentar mundo afora.
Na terceira frente, o governo brasileiro deve favorecer a discussão sobre fontes energéticas renováveis e programas sustentáveis de desenvolvimento. Também deve defender metas de redução de emissão de carbono visando o controle do aquecimento global. Vale mencionar que a cúpula do G20 coincide com o início da COP26, em Glasgow, no Reino Unido.
Por fim, membros do governo alegam que a delegação brasileira apresentará um olhar otimista sobre as condições macroeconômicas do país e ligadas à inclusão social, além de advogar por ajustes tributários entre os países e por maiores investimentos no Brasil, sobretudo voltados à infraestrutura.
Todo esse cardápio viria em boa hora. São temas importantes e que colocariam o Brasil no lugar onde gostaríamos de vê-lo. O problema, no entanto, é que a pauta do governo para o encontro do G20 carece de legitimidade. Mais do que isso, abre espaço para que o Brasil seja apontado como um país que, de novo, não se pode levar a sério.
Não basta ensaiar um discurso sobre "o que a comunidade internacional quer ouvir". É preciso que as propostas encontrem lastro na realidade. Que repousem sobre compromissos concretos, para gerar quaisquer efeitos positivos.
A realidade vai despir o Brasil e nos deixar expostos:
- Como falar em incentivo à imunização se o presidente do Brasil será o único líder do grupo a não ter tomado a vacina contra a covid-19?
- Como falar em competitividade no comércio se fechamos os olhos para cláusulas sociais e ambientais e as modificações produtivas delas decorrentes?
- Como falar em sustentabilidade diante dos recordes sucessivos de avanço da destruição registrados sob a atual gestão?
- Como falar em ambiente de negócios e atração de investimentos quando vemos uma crise monetária, fiscal e cambial corroendo o equilíbrio alcançado com a implementação do Plano Real?
A situação do Brasil diante do encontro do G20 é, no mínimo, constrangedora.
Nunca fez tanto sentido dizer que "quem tem boca vai a Roma". Para além das narrativas fantasiosas que o governo brasileiro tenta promover, há muita gente bem informada no G20.
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