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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Prevista para junho, reunião bilateral convém mais a Bolsonaro que a Biden

Os presidentes Jair Bolsonaro (Brasil) e Joe Biden (EUA) - AFP e Divulgação
Os presidentes Jair Bolsonaro (Brasil) e Joe Biden (EUA) Imagem: AFP e Divulgação

Colunista do UOL

27/05/2022 12h25Atualizada em 27/05/2022 14h32

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Nos últimos dias, temos acompanhado a circulação de notícias envolvendo a confirmação de uma reunião entre os presidentes Jair Bolsonaro e Joe Biden. Será o primeiro contato presencial entre ambos, depois de uma série de desencontros e incômodos mútuos.

O evento deve acontecer entre os dias 6 e 10 de junho, quando os líderes dos dois países estarão em Los Angeles, nos Estados Unidos, para participar da Cúpula das Américas, uma conferência organizada pela Organização dos Estados Americanos, de tempos em tempos, com vistas a reunir os chefes de Estado do continente para debater temas de interesse da região.

A relação com o hemisfério ocidental não tem sido prioritária para o governo norte-americano já há muito tempo. Com foco em problemas domésticos e em outras partes do mundo, como o Oriente Médio e a Ásia, as últimas administrações têm mantido políticas esporádicas para as Américas, geralmente proporcionais à percepção dos riscos de segurança que identificam para si, com ênfase em assuntos migratórios ou ligados ao combate a crimes transnacionais, por exemplo. Na gestão Biden, isso não tem sido diferente.

Para o governo brasileiro, por outro lado, as relações com os Estados Unidos são consideradas centrais e prioritárias. Sem surpresa, portanto, há meses a diplomacia brasileira trabalha, nos bastidores, para viabilizar esse encontro. Para além dos interesses nacionais objetivos, "sair na foto" com Joe Biden é particularmente conveniente ao governo Bolsonaro, porque permite ao presidente capitalizar politicamente o momento e contestar a narrativa de isolamento internacional do Brasil no contexto pré-eleitoral.

Entre os tópicos de convergência que podem orientar o encontro estão a dinamização do comércio e do investimento entre os dois países, discussões envolvendo cooperação no setor militar e de defesa e, quem sabe, uma agenda de contrabalanço e contenção da presença chinesa na América Latina. Apesar das inúmeras diferenças que os líderes possuem entre si, esses são temas nos quais as duas administrações têm visões compartilhadas e um canal aberto para o diálogo.

Por outro lado, no campo das divergências e de possíveis ruídos, temos questões envolvendo meio ambiente, democracia e a posição dos governos a respeito da crise internacional do momento: a guerra entre Rússia e Ucrânia. Não surpreenderia caso o líder norte-americano aproveitasse a oportunidade para elevar a pressão e as cobranças sobre o Brasil nessas searas.

De modo geral, o mais provável é que a reunião seja marcada por um tom diplomático, com discurso pautado no histórico positivo e na relevância estratégica das relações bilaterais. Diversos grupos, incluindo os pró-business, pressionarão as comitivas para um diálogo pró continuidade e orientado por interesses pragmáticos.

Para além disso, na prática, também é esperado que não haja grandes decisões ou compromissos derivados desse encontro. Se, por um lado, os norte-americanos veem com bons olhos a predisposição do governo Bolsonaro em uma agenda de alinhamento com os Estados Unidos, por outro, eles têm se mantido vigilantes sobre o processo de contestação das instituições por parte do governo brasileiro. Nesse sentido, tendem a acompanhar os próximos meses com relativo cuidado. A promessa é de "banho maria" até as definições que virão do processo eleitoral brasileiro dos próximos meses.