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Encontro entre Xi e Putin evidencia incômodo chinês com a guerra na Ucrânia
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Os últimos dias foram agitados na Ásia. Pela primeira vez, desde o início da pandemia de covid-19, o presidente chinês Xi Jinping deixou a China para uma viagem internacional. Escolheu realizar uma turnê regional, com foco nos interesses ligados, principalmente, à reconstrução da rota da seda, um dos projetos mais importantes e audaciosos de seu governo.
Além disso, aproveitando o encontro oficial de chefes de Estado da Organização para Cooperação de Xangai, instituição da Eurásia que reúne China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão, Xi encontrou-se, ontem (15), com o presidente russo Vladimir Putin. Foi o primeiro encontro entre ambos desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro desse ano.
Ao reportar sobre a conversa que tiveram, Putin empenhou-se em reforçar as afinidades mútuas. Disse que havia elogiado o que considera "uma posição equilibrada da China em relação ao conflito na Ucrânia", referiu-se ao presidente chinês como "camarada" e "velho amigo", além de ter enfatizado o compromisso russo com a política da "China única" (um recado direto à Taiwan) e de ter utilizado a ocasião para, uma vez mais, criticar a atuação dos Estados Unidos na arena internacional.
O que mais chama a atenção no entanto, como já se tornou praxe nos últimos tempos, está nas entrelinhas desse encontro. O reporte feito pelo lado chinês é muito mais sucinto e objetivo do que a manifestação russa.
O documento oficial divulgado pelo governo de Pequim escolheu cuidadosamente as palavras utilizadas. Restringiu-se a falar em "forte apoio mútuo em questões relativas aos respectivos interesses centrais", na importância de "salvaguardar a segurança da região" e "preservar os interesses comuns de países em desenvolvimento e emergentes". Citou, entre outras organizações estratégicas, os BRICS, e mencionou cooperação em comércio, agricultura e conectividade. Nem uma palavra direta sobre a Ucrânia.
Ao mesmo tempo, o próprio presidente Putin tornou público que Xi havia apresentado, durante a reunião, "questões e preocupações" sobre a Ucrânia, o que, segundo ele, entendia como algo legítimo. Embora tenha tentado diminuir o significado disso, a sinalização não deixa de ser o sinal de um incômodo chinês com o desenvolvimento da guerra.
À Putin interessa estreitar a aliança com a China para agregar validade e peso às suas próprias decisões, especialmente neste momento delicado do conflito, em que forças ucranianas retomaram parte do território perdido. A aliança sino-russa é fundamental para o discurso "anti-Ocidente" de Putin e também para manter, sobretudo os Estados Unidos e potências europeias, em alerta permanente.
Para os chineses, por sua vez, convém o reforço da narrativa de declínio relativo da ordem existente e da necessidade de buscar novos pactos e regras para o jogo da política internacional. Não deixa de ser também uma forma de responder ao endurecimento das ações norte-americanas em relação aos chineses nos últimos anos e uma oportunidade de defender seu modelo político doméstico, com vistas à longevidade do Partido Comunista e do princípio de não interferência em seus assuntos internos.
Apesar disso tudo, no entanto, está claro que estamos diante de uma parceria que envolve importantes assimetrias, grandes sensibilidades e um pacto que se sustenta, antes de tudo, pela conveniência dos chineses e por uma visão utilitarista do que os russos podem representar para Pequim nesse momento.
Putin tenta forjar um casamento com a China. Xi parece apostar, por enquanto, muito mais em um flerte sem compromisso com a Rússia.
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