Fernanda Magnotta

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Opinião

Zelensky à parte, cúpula da Otan reforça o óbvio da política internacional

O tema internacional de maior projeção nessa semana foi, sem dúvida, o encontro promovido por membros da Otan na Lituânia. Ao fim da cúpula, que durou dois dias, houve muita repercussão sobre o fato de que, embora tenham dirigido novas promessas de apoio à Ucrânia na guerra em curso, os líderes do bloco evitaram comprometer-se com sua efetiva adesão à aliança.

A expectativa do presidente Zelensky era de, no mínimo, sair do evento com um prazo claro para o ingresso de seu país na Otan. Em vez disso, os membros ofereceram outro tipo de suporte. Sinalizaram assistência com envio de mais armas e munições, apoio por meio de "programas plurianuais" para reforçar as instituições de segurança ucranianas, além de ajuda econômica.

Também propuseram a criação de um Conselho a fim de fortalecer a cooperação e o diálogo mútuos.

A adesão do país à Otan, no entanto, permaneceu sujeita a condicionalidades pouco claras.

Embora essa decisão tenha suscitado críticas mundo afora e sentimento de frustração para o governo ucraniano, na prática ela simplesmente reflete uma dinâmica básica que costuma reger as relações internacionais: a busca por relativa estabilidade em tempos de crise e o comportamento auto-interessado dos países.

Por mais que declarem solidariedade à Ucrânia e objetivamente contribuam com Kiev, no fim do dia, o cálculo de custos e benefícios dos Estados tende a se pautar por critérios egoístas. Aos olhos dos membros da Otan soa imprudente, no contexto do atual conflito, dar um passo rumo à definitiva adesão da Ucrânia. Poderia contribuir para a escalada da guerra no leste europeu, tornando-a oficialmente global e de dimensões difíceis de mensurar.

Além de aumentar a imprevisibilidade das ações russas (e os riscos, inclusive nucleares), isso obrigaria as maiores potências do mundo a colocar "boots on the ground" em um teatro de operações que, até o momento, acompanham apenas à distância. Essa decisão teria enormes repercussões geopolíticas, mas não apenas — também implicaria lidar com os efeitos domésticos trazidos pela guerra. Trata-se, portanto, de uma decisão racional e profundamente calcada em preservar capital político dos líderes dentro de casa.

Ademais, não se pode ignorar que a escolha pelo caminho do meio também atende a um dos principais objetivos do Ocidente no que tange ao conflito na Ucrânia: não é preciso, necessariamente, agarrar-se a Zelensky para seguir encurralando a Rússia. Apostar na "carta ucraniana" seria escolher o cenário mais sensível e potencialmente danoso. Não faz sentido dobrar a aposta contra Putin nesse momento.

Na prática, a Otan já tinha outras formas de incomodar o Kremlin: não apenas anunciando novas concessões a Kiev na guerra em curso, mas, principalmente, com a sinalização de adesão de outro país-chave nessa discussão. Com a cúpula dessa semana veio o anúncio de que a Suécia está prestes a abandonar mais de 200 anos de política de neutralidade para juntar-se ao bloco. Esse foi o trunfo que interessava aos países do Ocidente anunciar na Lituânia.

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Mais do que as fotos de Zelensky deslocado, calou fundo, para o Kremlin, ver Biden e Erdogan lado a lado. Durante o encontro, formalizou-se a aprovação da Turquia para a adesão sueca. Embora o processo ainda demande ratificação parlamentar, esse foi um passo significativo no processo negocial e também um poderoso recurso simbólico. Depois da Finlândia, é mais um sinal de que os objetivos russos na guerra podem estar tendo efeito inverso ao pretendido originalmente.

Por fim, a abordagem reticente da Otan sobre a Ucrânia também reflete a intenção dos países em ganhar tempo para promover revisões nos planos de defesa coletiva. A expansão da aliança ao longo dos anos, e as ameaças desse século, levam os líderes ocidentais a querer reformular os termos sobre como os países responderiam ao eventual ataque a um de seus membros.

É preciso chegar a novos consensos que, no futuro, não façam dos países da aliança reféns de si mesmos. Essa foi uma lição importante que a guerra na Ucrânia trouxe: é preciso refazer os cálculos sobre que tipo de fatura interessa a cada um assumir em nome de outros.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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