Fernanda Magnotta

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Opinião

G77 servirá de palco para que Lula volte a defender reforma da ordem global

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva participa hoje, em Havana, de um encontro do G77+China, antes de embarcar para Nova York, onde realizará o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, na próxima semana.

O G77, também conhecido como Grupo dos 77, é uma coalizão de países em desenvolvimento que trabalha em conjunto nas Nações Unidas para promover interesses comuns em questões globais. Foi fundado em 1964 por 77 países em desenvolvimento (daí o nome), mas atualmente conta com mais de 130 membros.

O principal objetivo do G77 é fortalecer a voz e a influência dos países em desenvolvimento nas negociações internacionais, especialmente nas áreas de comércio, desenvolvimento econômico, meio ambiente e assistência financeira. A coalizão busca abordar temas como desigualdade, acesso a recursos financeiros e tecnológicos, sustentabilidade e outros desafios que afetam o mundo em desenvolvimento.

Ao Brasil interessa manter a aproximação com esse bloco por várias razões. Em primeiro lugar, porque permite a coordenação de posições em negociações em outros fóruns multilaterais. Em segundo lugar, porque favorece o acesso a recursos para projetos, sobretudo no combate à pobreza. Por fim, e principalmente, pois contribui para o fortalecimento da narrativa de solidariedade Sul-Sul e da busca por uma ordem internacional mais plural e representativa, bandeira central da política externa do governo Lula.

Durante a passagem por Cuba Lula será obrigado a revisitar fantasmas do passado no trato bilateral com a ilha: terá de falar sobre os empréstimos concedidos via BNDES, sobre a polêmica construção do Porto Mariel, e sobre a dívida que o país mantém com o Brasil. Deverá também tentar estreitar laços com o governo cubano visando aumentar a cooperação técnica e em áreas específicas, incluindo a retomada do programa "Mais Médicos" e a realização de missões empresariais envolvendo a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), bem como eventual colaboração via EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

De toda forma, o mais importante, nesse momento, é entender que o fato de o encontro do G77 ser sediado em Cuba e contar com a presença chinesa deve reforçar ainda mais o peso da mensagem reformista encampada pelo Brasil. Ao falar da ascensão de um "novo mundo", Lula deve criticar o embargo norte-americano à ilha e, uma vez mais, defender a diversificação de parceiros na América Latina.

O desafio desse discurso será manter o equilíbrio entre a coerência com os valores que historicamente definem o Brasil, e a demanda por uma nova ordem internacional. Buscar a transição para um mundo multipolar e defender uma governança condizente com essa nova configuração de poder não precisa, necessariamente, implicar em levantar bandeiras que, mundo afora, serão descritas como "antiocidentais".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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