Fernanda Magnotta

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Opinião

2023: o ano em que o passado e o futuro se encontraram nas crises

O ano que termina hoje materializou o que tem sido o século XXI até aqui: a permanente convivência entre o velho e o novo, sobretudo em matéria de crises. Três são as tensões entre o "ontem" e o "amanhã" mais flagrantes e estruturalmente sensíveis que poderíamos, em clima de retrospectiva, destacar por aqui.

Em primeiro lugar, acompanhamos, em 2023, o convívio entre os soluços da velha geopolítica (com direito a guerras convencionais, conflitos envolvendo territórios, etc) e o agravamento de um novo tipo de crise, para além da experiência pandêmica recente: a crise climática, cada vez mais sintomática e urgente de ser endereçada.

Ao longo desse ano, dividimos nossa atenção entre o conflito russo-ucraniano, que completou um ano em fevereiro, atingindo um número total de baixas que já beira meio milhão de pessoas, seguido, no segundo semestre, do ataque do Hamas a Israel, que iniciou uma guerra em grande escala na região da Faixa de Gaza. Ao mesmo tempo, vivemos esse, que foi, segundo a ONU, o ano mais quente dos últimos 125 mil anos, tornando difícil desviar o olhar das consequências das mudanças climáticas e do aquecimento global.

Em segundo lugar, testemunhamos a velha política se reapresentando em sua versão 2.0, com presença do populismo e nacionalismo típicos do século passado, mas embrulhados para presente com contornos de narrativa antissistema e antipolítica, na famigerada tentativa de parecer novidade, mas que cheira naftalina.

As manifestações disso, no mundo todo, são numerosas e desde 2016, com Trump, não param de se multiplicar. Para exemplificar, restringindo-as apenas ao nosso entorno geográfico, tivemos, em 2023, o 08/01 no Brasil, o assassinato do candidato à Presidência do Equador (com o consequente decreto de estado de emergência e as eleições por lá), a chegada ao poder de Javier Milei na Argentina e os arroubos de Maduro contra a Guiana.

Em terceiro lugar, 2023 foi palco de outra crise típica das relações internacionais, a transição hegemônica, mas com os agravantes dos novos tempos: transformação tecnológica e produtiva, com disposição para transição energética e desafios no campo digital, incluindo de regulação. As farpas constantes entre Estados Unidos e China extrapolaram as abordagens convencionais em todos os campos. Ganharam nova forma e se refletiram em praticamente todos os encontros multilaterais.

Da 18ª Cúpula de Líderes do G20 na Índia à 15ª Cúpula dos BRICS na África do Sul. Da 49ª Cúpula do G7, no Japão, à 78ª Assembleia Geral da ONU em Nova York, passando pela 28ª Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28) até os encontros regionais mundo afora, todos já entenderam que a relação entre antigas e novas potências passará por um cardápio que vai além do tamanho de seus exércitos e o volume acumulado de seu PIB.

Pegando carona na genial frase de Cazuza, esse é o resumo de 2023: um "museu de grandes novidades".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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