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Fernanda Magnotta

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Opinião

Vance, o vice de Trump, é a aposta em um novo capítulo no projeto Maga

A escolha de J.D. Vance, indicado por Donald Trump como vice-presidente dos Estados Unidos na chapa republicana, ilustra mais um capítulo da complexa dinâmica de poder pela qual passa o cenário político do país nesse momento atribulado de sua história. Eis que, aos 39 anos, Vance - que é senador há pouco mais de um - se tornou, em tempo recorde, a figura central no projeto de futuro do movimento "Make America Great Again" (Maga).

Vance cresceu em uma família simples de Ohio com raízes no Kentucky. Seus pais se divorciaram quando ele era criança, e sua mãe lutou contra o abuso de substâncias. Criado pela avó, Vance contou a sua história em um livro best-seller chamado "Hillbilly Elegy", que mais tarde foi adaptado para o filme "Era Uma Vez um Sonho". Essa narrativa ressoou com muitos norte-americanos, especialmente aqueles no chamado "Rust Belt" que se sentem alijados dos efeitos positivos do progresso econômico e da globalização.

Depois de servir no Iraque junto aos Marine Corps e estudar na Ohio State University e na Yale Law School, Vance ingressou no mundo dos "venture capitalists", investindo em startups e pequenas empresas. Essa experiência lhe proporcionou uma compreensão dos desafios e oportunidades no setor de tecnologia, além de uma rede valiosa de contatos.

Na política, Vance foi, inicialmente, um crítico vocal de Donald Trump, mas mudou de posição ao longo do tempo, apoiando o ex-presidente em 2020 e endossando a narrativa de fraude eleitoral promovida por ele. Em 2022, Vance concorreu ao Senado dos Estados Unidos e venceu as primárias do Partido Republicano com o apoio decisivo de Trump. Embora sua vitória nas primárias tenha sido com apenas 32% dos votos e sua margem nas eleições gerais contra o democrata Tim Ryan tenha sido relativamente estreita, Vance emergiu como uma nome forte entre os adeptos, no Congresso, do movimento trumpista.

Vance defende uma agenda afeita à direita conservadora e isolacionista, em boa medida semelhante ao que o próprio Trump representa hoje. Visto como um populista antielite da nova geração, ele é crítico da guerra ao Iraque e do apoio financeiro concedido pelos Estados Unidos à Ucrânia. Ele apoia a aliança com Israel e acredita que o foco dos Estados Unidos deve estar na contenção da China.

A escolha de Vance por Trump parece ter sido influenciada por sua lealdade e capacidade de ser moldado como um representante eficaz da agenda Maga. Embora não represente um bônus ideológico ou demográfico significativo para a campanha presidencial de 2024 em si, Vance é visto como alguém que pode capitalizar nas frustrações e angústias da classe média trabalhadora, especialmente no Meio-Oeste e levar adiante o projeto político de Trump.

Como parte do devotamento à Trump, Vance esteve presente no julgamento de Nova York e, mais recentemente, após o atentado contra o republicano, foi dos poucos políticos nos Estados Unidos que abertamente, pelas redes sociais, sugeriram que Biden tivesse responsabilidade por incitar opositores contra Trump.

Além disso, é importante manter presente que o apoio de figuras influentes como Trump Jr., Elon Musk, Tucker Carlson e David Sacks foram/têm sido cruciais para sua ascensão. Esses aliados ajudaram a construir sua imagem pública e tem atuado instrumentalmente para solidificar o lugar de Vance na política nacional.

Em resumo, Vance, no curto prazo, pode não angariar votos para Trump, mas ele representa, simbolicamente e na prática, o que está no cerne do trumpismo hoje e no futuro: a política que mira nas angústias e ressentimentos dos americanos comuns, sobretudo trabalhadores da classe média, que se sentem abandonados "pelo sistema".

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Vance interessa ao projeto do Maga, nesse momento, por duas razões: primeiro, por não ser visto como uma "pedra no sapato" que pode atrapalhar a gestão Trump durante os próximos quatro anos, se eleito; e, segundo, porque é tido como uma jovem liderança a ser moldada pelo próprio Trump, à sua imagem e semelhança, com vistas a 2028.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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