Topo

Jamil Chade

Racha entre Brasil e Argentina faz europeus temerem por atraso em acordo

27.out.2019 - Cristina Kirchner e Alberto Fernández na comemoração em Buenos Aires da vitória de sua chapa na eleição presidencial da Argentina - Martin Zabala - 27.out.2019/Xinhua
27.out.2019 - Cristina Kirchner e Alberto Fernández na comemoração em Buenos Aires da vitória de sua chapa na eleição presidencial da Argentina
Imagem: Martin Zabala - 27.out.2019/Xinhua

Colunista do UOL

28/10/2019 08h42

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Oficialmente, Europa diz que eleição na Argentina não muda sua intenção de ratificar o acordo Mercosul-UE. Mas negociadores admitem que existe preocupação sobre o posicionamento do Cone Sul e desentendimentos entre Brasília e Buenos Aires

A eleição na Argentina da chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner não muda os planos da União Europeia em conseguir uma ratificação do acordo comercial entre Mercosul e UE. Quem garante isso é a própria Comissão Europeia, numa declaração oficial em Bruxelas nesta segunda-feira.

"Não muda nada", disse uma porta-voz da Comissão, que insiste que o interlocutor será Fernández, e não Cristina Kirchner. ""Temos um acordo com o Mercosul e estamos trabalhando uma uma rápida ratificação", completou.

Mas, nos bastidores, o tom é outro e negociadores de alguns dos principais países do bloco. Nas capitais, governos não escondem que, se do lado europeu de fato nada muda, eles aguardam com preocupação uma sinalização do novo governo argentino sobre o futuro que quer dar ao novo tratado.

A pressa tanto de Brasil como da UE em fechar um acordo comercial nos últimos meses tinha o cenário argentino como um dos fatores. O temor era de que, com base no histórico de Cristina Kirchner, Buenos Aires sob seu governo seria mais protecionista e não aceitasse uma liberalização da forma pela qual o acordo estabelece.

Presidente Jair Bolsonaro disse que não iria parabenizar Fernández  - Marcos Corrêa/PR - Marcos Corrêa/PR
Presidente Jair Bolsonaro disse que não iria parabenizar Fernández
Imagem: Marcos Corrêa/PR
Diplomatas de pelo menos dois países europeus confirmaram à coluna que a possibilidade de uma vitória dos adversários de Maurício Macri serviu de "incentivo" para que o acordo entre o Mercosul e a UE fosse acelerado. Depois de 20 anos de negociação, o tratado foi fechado em julho. Mas precisa ser ainda aprovado pelos diferentes parlamentos nacionais para que entre em vigor. Na Europa, a previsão é de que isso ocorra até o ano de 2021.

Mas se em Bruxelas o discurso oficial é de que tudo segue seu caminho, fontes no bloco alertam que a nova mudança no Cone Sul causa preocupação. Por anos, o governo de Cristina Kirchner se recusou a aceitar as condições apresentadas pela Europa para um acordo.

Diplomatas relembram como, em diferentes ocasiões, foi o veto da Argentina que impediu que o Mercosul apresentasse uma oferta de maior liberalização.

Além disso, os europeus acompanham com preocupação o racha entre Brasília e Buenos Aires. Na avaliação de Bruxelas, sem um entendimento entre as duas principais capitais da região, as chances de um acordo sair do papel diminuem.

Em viagem no Oriente Médio, o presidente Jair Bolsonaro "lamentou" a vitória de Alberto Fernández e indicou que não iria felicita-lo. Em Buenos Aires, o presidente eleito postou nas redes sociais uma foto com uma imagem de "Lula Livre", o que foi recebida em Brasília como uma provocação.