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Jamil Chade

Coronavírus "está longe de acabar", afirma brasileira na cúpula da OMS

Mariângela Simão, diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde - Sergio Lima/Folhapress
Mariângela Simão, diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Colunista do UOL

14/03/2020 04h01

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O mundo ainda está longe do pico da pandemia de coronavírus, mas ações de contenção podem dar resultados. A análise é de Mariângela Simão, diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde e a única brasileira na cúpula da agência internacional na liderança do combate à covid-19.

Em entrevista exclusiva à coluna, ela indicou que a onda de contágios deve crescer, ainda que o número de casos estejam em queda na China. "Os surtos ainda estão começando em algumas regiões do mundo", disse.

"Não acabou e está longe de acabar", afirmou a brasileira, encarregada de temas de acesso a remédios em um plano global.

Simão, que ocupou cargos estratégicos no Brasil, acredita que o país "está preparado e tem estrutura". "A principal questão é a vigilância. Se você não tem isso, não tem nada."

Apesar de reconhecer que o vírus vai avançar, ela acredita que governos não podem abandonar a estratégia de contenção. Segundo a OMS, dezenas de países ainda não registraram casos e, em alguns, os números continuam relativamente baixos.

Na avaliação da brasileira, a China fez um trabalho "monumental", mas isso não dava o direito aos governos de pensar que o vírus não chegaria a outras regiões em um mundo de deslocamentos rápidos como é o de hoje.

A especialista diz que é "irreal" pensar que uma doença respiratória fosse ficar em um só país. Lamentando por chefes de Estado que minimizaram a crise, ela aponta como a pandemia também ensinou ao mundo que "ninguém é uma ilha" e que ninguém é "autossuficiente".

Desinformação aliada ao potencial do vírus alimenta o pânico

Para ela, a mistura da desinformação, do desconhecimento sobre o vírus e a letalidade que não é desprezível explicam o sentimento de pânico em parte da população. Mas ela afirma que grande parte dos casos se revelam leves e lembra que já viveu algo parecido no momento do H1N1.

"A diferença agora é que ninguém tem imunidade", afirmou.

A brasileira lembra que há anos a OMS vem insistindo sobre a necessidade de que governos estejam preparados.

"O mundo não está preparado. A pandemia mostra que isso não pode envolver apenas o Ministério da Saúde. Isso é uma questão de governo, de uma ação global", completou.