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Brasil fica de fora de ação mundial para acelerar vacina e apoiar OMS

                                 O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido)                              -                                 SERGIO LIMA/AFP
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) Imagem: SERGIO LIMA/AFP

Colunista do UOL

04/05/2020 12h48Atualizada em 18/05/2020 12h24

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Resumo da notícia

  • OMS teme "ondas contínuas" de transmissão e aponta que apenas vacina vai trazer solução
  • Aliança de mais de 40 países reuniu 7,4 bi de euros para desenvolver vacina
  • Tedros Ghebreyesus estima que vírus vai estar presente por "um longo tempo".

O governo brasileiro ficou de fora de uma aliança mundial para dar uma resposta à pandemia e acelerar a produção de uma vacina. Nesta segunda-feira, convocados pela UE e pela ONU, governos de todo o mundo anunciaram doações de 7,4 bilhões de euros e o compromisso de agir de forma conjunta.

A ideia é de que a comunidade internacional apenas conseguirá se proteger do vírus quando uma vacina for produzida e distribuído

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, comemorou os resultados da reunião. "Líderes de mais de 40 países se uniram", indicou. Segundo ele, o que os governos fizeram foi "demonstrar solidariedade global".

O etíope, porém, alerta que existe o potencial de "ondas contínuas" de contaminação do vírus. Nesse contexto, uma vacina é necessária. "O vírus vai estar presente por um longo tempo e precisamos nos unir para dar uma resposta", afirmou.

A aliança contou com a liderança da França, Alemanha, Japão, Omã, Noruega, Canadá, Espanha, Reino Unido e Itália. Mas o processo também foi apoiada por China, Jordânia, México, Austrália, África do Sul, Arábia Saudita, Mônaco, Turquia, Suíça, Israel, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Coreia do Sul, Suécia, Dinamarca, Luxemburgo, Hungria, Polônia, República Tcheca, Sérvia, Bulgária, Bélgica, Malta, Áustria, Grécia, Irlanda, Portugal, Estônia, Croácia e Holanda, além do Banco Mundial, Fórum Econômico Mundial e outras instituições.

Procurado nos últimos dias pela reportagem, o Itamaraty sequer deu uma resposta sobre o evento. O Ministério da Saúde também ficou em absoluto silêncio. Apenas depois da publicação da matéria é que a pasta se manifestou, indicando que o Brasil não iria participar e que iria entrar em "outras parcerias". A reportagem perguntou quais seriam essas outras iniciativas, mas não obteve resposta.

Nas últimas semanas, o governo brasileiro tem criticado a OMS, se distanciando de iniciativas globais e causando sérias preocupações internacionais. Já o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, foi alvo de chacota nos bastidores das agências internacionais ao apontar para o risco de um "plano comunista" diante da pandemia.

Ao longo das últimas décadas, o governo brasileiro passou a ser um dos principais atores na defesa do acesso a medicamentos, um dos pontos centrais da reunião virtual realizada nesta segunda-feira. Entidades lamentaram a ausência e a transformação na postura do país.

Além do Brasil, a ausência dos EUA também evidenciou a dificuldade de unir o planeta por uma ação coordenada. O plano tampouco contou com Rússia e Índia.

O governo do México indicou que vai tentar coordenar a região latino-americana para apoiar a iniciativa. Mas não indicou quais países fariam parte.

Ainda assim, algumas das maiores democracias do mundo mostraram seu engajamento num compromisso para acelerar o desenvolvimento de vacinas e tratamentos, além de uma garantia de que haverá um acordo de distribuição para os países mais pobres.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, abriu a conferência com a promessa de que o evento iria "unir o mundo, nos quatro cantos do planeta". "Esse dia vai ser marcado como um ponto de virada na luta contra a pandemia", afirmou.

Para lidar com a crise, a UE coletou doações no valor de mais de 7,4 bilhões de euros para acelerar pesquisas e garantir tratamento e vacinas. Também houve um compromisso de que, uma vez produzida, vacina será distribuída a todos os que necessitam.

Mas também ficou claro que a conferência era um ato político de chancela à OMS, duramente criticada pelos EUA e por governos como o de Jair Bolsonaro. A entidade registrou um corte de recursos por parte de Donald Trump, o maior doador da agência.

Durante o evento, porém, vários foram os governos que saíram ao resgate da entidade e prometeram criar uma frente comum para desenvolver a vacina.

Emmanuel Macron, presidente da França, anunciou mais recursos para a OMS e 500 milhões de euros para o novo fundo. "Precisamos de mais OMS", indicou. Segundo ele, seria um "erro maior" tomar medidas isoladas. "Só sairemos dessa situação se estivermos juntos", disse.

Para o francês, a nova aliança tem como objetivo ainda garantir que a vacina, uma vez produzida, não seja apenas entregue a quem pagar mais por ela.

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, alertou que o maior teste para o mundo não é apenas produzir a vacina. Mas garantir que ela chegue a todos.

Angela Merkel, chanceler da Alemanha, usou seu discurso para reforçar a ideia de apoiar o multilateralismo. O primeiro-ministro do Japão, Shinzu Abe, anunciou milhões de euros em apoio.

Erna Solberg, primeira-ministra da Noruega, alertou que "só parcerias e entidades multilaterais" poderão dar uma resposta e prometeu mais dinheiro para a OMS. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, defendeu que haja uma "resposta global". "Não podemos nos isolar. É o momento de liderança global", disse. Pedro Sanchez, presidente do governo da Espanha, anunciou 150 milhões de euros em doações e fez um alerta: "quanto mais divididos estivermos, maior será o risco".

Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, foi outro que alertou que nenhum país terá "êxito se agir sozinho". Para o chefe-de-governo em Londres, países precisam se unir para "criar um escudo" em suas populações.

As autoridades sauditas, presidentes do G-20, também participaram e anunciaram US$ 500 milhões à iniciativa. Mas usaram seu discurso para pedir uma "resposta global". No G-20, os sauditas não conseguiram garantir o estabelecimento de um plano mundial contra a pandemia.

Giuseppe Conte, primeiro-ministro italiano e próximo presidente do G-20, deixou claro que o multilateralismo será sua prioridade no comandado grupo. "O mundo só tem uma alternativa: a cooperação", disse o italiano, prometendo aumentar recursos para a OMS.

A iniciativa ainda reuniu num só evento rivais políticos. Rei Abdullah II da Jordânia pediu o fortalecimento de uma nova vertente de integração para garantir uma "interdependência positiva" entre os países. Recep Erdogan, presidente da Turquia, pediu "responsabilidade global". O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, defendeu uma "parceria global". "Só estamos no final do começo", alertou.

Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul e falando em nome da União Africana, também anunciou contribuições financeiras.

Antonio Costa, primeiro-ministro de Portugal, alertou que a crise "expõe o óbvio: somos uma só humanidade vivendo num único mundo". O país prometeu 10 milhões de euros para acelerar a produção da vacina, um euro por cada habitante do país.

Para o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, "esse é a liderança que o mundo precisa hoje". Ele, porém, insistiu que a nova vacina se transforme em um bem público mundial.

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