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Brasil está perdendo respeito internacional, diz chanceler palestino

O presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, na Casa Branca - Reprodução/Twitter
O presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, na Casa Branca Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

01/06/2020 11h06

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O chanceler palestino, Riyad al-Maliki, afirmou que o governo brasileiro está sofrendo uma perda de sua reputação internacional e lamenta a guinada na política externa do país.

Em 2019, o governo brasileiro modificou de forma radical sua posição no Oriente Médio, apoiando uma proposta de Donald Trump e de Israel para estabelecer um acordo na região. O Itamaraty deixou ainda de votar em resoluções da ONU em defesa dos interesses palestinos e anunciou que pretendia abrir uma embaixada do Brasil em Jerusalém.

Al-Maliki, um dos principais políticos palestinos e que já ocupou diversos ministérios, aponta que existem posições diferentes no Brasil em relação à situação do Oriente Médio.

"Ouvimos declarações contraditórias. De um lado, ouvimos o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos de que estão aderindo completamente ao lado dos ocupantes (Israel), dando direito total à ocupação, e contra a auto-determinação", afirmou o ministro, ao ser questionado nesta segunda-feira pela coluna. "Ao mesmo tempo, eles negam o direito internacional e a implementação das resoluções da ONU", disse.

Em novembro, a diplomacia brasileira passou a apoiar Israel em votações na Assembleia Geral das Nações Unidas. O Brasil foi um dos 11 países que votaram contra uma resolução que pedia investigações sobre possíveis abusos de direitos humanos por parte de Israel contra o povo palestino. A resolução foi aprovada com 82 países dando seu apoio; 78 países se abstiveram.

O Brasil, porém, se aliou a um pequeno grupo de países, todos alinhados aos EUA, como Austrália, Canadá, Colômbia, Nauru e Micronésia, além de Israel.

O governo de Jair Bolsonaro ainda se absteve em uma resolução que condenava os assentamentos israelenses em partes de Jerusalém, no território palestino e nas colinas de Golã. Apenas 15 países seguiram a mesma posição do Brasil e a resolução acabou sendo aprovada com 156 votos a favor.

Uma resolução específica sobre a ocupação das Colinas de Golã também foi aprovada, com 155 votos a favor. Mas o Brasil optou pela abstenção.

Numa resolução que tratava das propriedades e receitas dos palestinos, o Brasil se absteve, ao lado de outros oito governos. Todos são aliados dos EUA, como Austrália, Vanuatu e Honduras. A resolução passou com 162 países a apoiando, entre eles todos os sul-americanos.

Mas o chanceler palestino indicou que não perdeu as esperanças de ver uma mudança no Brasil. Segundo ele, nos escalões intermediários do Itamaraty e no Congresso Nacional, o posicionamento nem sempre é o mesmo daquele adotado por Bolsonaro.

De acordo com ele, essas vozes têm mostrado até mesmo "tristeza" em relação à posição oficial do governo. "O que significa que temos de continuar a trabalhar com essas pessoas na tomada de decisões. Manter contatos com o Congresso e esperando que eles possam influenciar o ministro (Ernesto Araújo) e até o presidente", disse.

"As pessoas no Brasil mostraram solidariedade à causa palestina. Temos de ter paciência e continuar a trabalhar com todos os setores, esperando que uma mudança ocorra, seja na política ou em indivíduos. E que traga o Brasil para onde ele pertence", afirmou.

Al-Maliki conta como o Brasil foi o líder dos países que respeitam direito internacional. "O Brasil ganhou sua reputação internacional ao respeitar o direito internacional e por ser o líder do multilateralismo. É uma pena que O Brasil esteja perdendo essa posição e indo numa situação em que o Brasil está perdendo o respeito e admiração de tantos países pelo mundo", lamentou o chanceler.

Conforme a coluna mostrou na semana passada, as posturas do Itamaraty na ONU, na OMS e em outros fóruns internacionais transformaram em menos de um ano e meio a imagem do país no exterior.

O palestino, porém, insiste que quer continuar a trabalhar com o Brasil "para que volte a onde pertence".