Ex-premiê britânico, Brown critica alianças "antiglobalistas" e cita Brasil
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Num apelo para que o governo de Jair Bolsonaro não caia na armadilha de alianças antiglobalistas, Gordon Brown, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, alerta que o Brasil precisa se lembrar de seu passado de cooperação internacional num momento de uma crise sem precedentes, causada pela pandemia.
Segundo ele, a "história não será gentil" com líderes que optarem por nacionalismos e visões contrárias à cooperação internacional.
Brown, nesta quarta-feira, conversou com jornalistas em Genebra sobre sua iniciativa de enviar uma carta aos líderes do G-20 pedindo que o grupo que reúne as maiores economias do mundo volte a realizar uma cúpula para planejar uma resposta global ao vírus e à crise econômica internacional.
A carta foi assinada por mais de 200 personalidades internacionais, entre eles Fernando Henrique Cardoso.
Hoje, o G-20 está paralisado e um encontro apenas está programado para ocorrer em novembro. Em reuniões nas últimas semanas, um veto americano impediu até mesmo que declarações finais fossem publicadas pelo bloco, num sinal de ausência de consenso. Enquanto isso, milhões de pessoas são jogados para a pobreza e a fome aumenta.
O britânico criticou a proposta de Donald Trump de convocar, no lugar, uma reunião de um G-7 ampliado, em setembro. A meta é a de deixar a China e outros de fora, colocando para dentro da reunião apenas seus aliados mais próximos. O governo brasileiro afirmou que foi convidado por Trump.
A iniciativa é ainda vista como um esforço claro para enfraquecer o G-20. Segundo ele, porém, a reunião de Trump traria apenas líderes que representam 2 bilhões de pessoas, de um total de 7 bilhões de habitantes no planeta.
"Não haverá a América Latina (na reunião) se isso ocorrer", afirmou Brown, considerando que não existe hoje uma presença confirmada do Brasil no evento de Trump. "O pior que pode ocorrer é a política de dividir para governar, enquanto pessoas morrem", disse.
Brown lembrou que o Brasil foi um dos países que mais contribuiu, em 2009, para a consolidação do G-20 como fórum de debate e coordenação. Hoje, ele apela para que o governo se lembre de como foi ativo na cooperação internacional no passado, durante a crise financeira.
"Eu me lembro de que como o Brasil era ativo na cooperação em termos econômicos, mudanças climáticas e pressionando por acordo comercial", afirmou.
"O Brasil tem uma história de cooperação internacional e deve se lembrar disso", disse. "Eu pensaria que a opinião no Brasil continua querendo fazer parte de uma cooperação internacional que vai ser necessária para as economias emergentes", afirmou.
Nas últimas semanas, segundo ele, emergentes registraram uma fuga de capital de US$ 100 bilhões, o que revela a necessidade de uma resposta global coordenada.
Para ele, "a história não será gentil" aos líderes que não colaborem e insiste que ninguém resolverá sozinho a crise. "Não haverá Brasil First, America First", afirmou. "Qualquer im que achar que pode liderar uma coalizão anti-globalista está errado", insistiu, numa alusão ao caminho proposto por governos como o dos EUA ou do Brasil.
Na avaliação de Brown, a crise econômica só poderá ser lidada quando a doença for controlada. Para ele, o nacionalismo não vai ajudar. "Vemos inimigos sendo inventados e inimigos que não existem", disse.
Segundo o britânico, o mundo passou de um protecionismo defensivo para protecionismo ofensivo. "Se o mundo não se unir, será um fracasso que será lembrado por séculos", afirmou.
Brown ainda insiste que a objeção de um ou dois países não deveria parar o G-20 e pede que os demais países pressionem por um encontro.
Na carta, o britânico apresenta uma série de propostas ao bloco de países. Mas, acima de tudo, alerta que o mundo até agora não tem um plano de crescimento. "Sem o G-20, ficarmos num grande limbo", apontou. "Corremos o risco de ver o maior fracasso de nossa geração", insistiu.
"Se não agirmos juntos, contra vírus, caos e pobreza, então o veredicto da história será duro", completou.
Pacote
Para Brown, o mundo ainda não tem um plano de crescimento e, para isso, seria necessário que o G-20 fechasse um acordo para suspender o pagamento de dívidas dos países mais pobres, avaliado em US$ 80 bilhões. Hoje, o entendimento aponta para apenas US$ 20 bilhões em perdão de dívidas.
Além disso, ele aponta que apenas uma fração dos US$ 2,5 trilhões indicados pelo FMI como sendo necessários para o resgate mundial foi alocado. Atualmente, mais de cem países pediram já ajuda emergencial à entidade.
Ele também defende um ação contra paraísos fiscais, o que permitiria que evasão fiscal fosse reduzida.
Para analistas, foi a ação do G-20 entre 2008 e 2009 que evitou um colapso ainda maior da economia global. Hoje, porém, não há um sinal de tal coordenação.
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