Topo

Jamil Chade

OMS: Pausa em vacina da AstraZeneca é "lição" e "alerta" para o mundo

Cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, durante entrevista coletiva em Genebra - Reprodução
Cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, durante entrevista coletiva em Genebra Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

10/09/2020 12h36

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a pausa nas pesquisas realizadas pela AstraZeneca em relação a uma vacina contra a covid-19 deve servir de "lição" e de um "despertar" para o mundo sobre as expectativas de solução rápida para a pandemia.

Nesta sexta-feira, a pandemia completa seis meses, ainda que a emergência global tenha sido declarada no final de janeiro.

No início da semana, a farmacêutica AstraZeneca suspendeu os testes de estágio final de sua candidata a vacina contra a covid-19 após uma suspeita de "reação adversa séria" em um participante do estudo. A vacina, que é desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, é testada no Brasil e em outros países.

Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, indicou que a suspensão é um "procedimento normal" é reflete uma "boa prática" por parte da empresa.

Ainda assim, o acontecimento deve ser considerado como um "chamado de despertar e lição" para que todos reconheçam que existem "altos e baixos" na pesquisa científica e que "precisamos estar preparados".

"Nem sempre é tão rápido", disse a representante da OMS, numa referência ao processo de desenvolvimento de vacinas. Para ela, isso não deve ser um motivo para desencorajar a pesquisa. Mas é cautelosa sobre como o trabalho da empresa será retomada. "Esperamos que (os testes) voltem. Mas vai depender de muitos fatores", comentou.

Soumya confirmou que os resultados de fases anteriores de testes foram "promissores" e a segurança não havia sido um obstáculo importante. Mas adverte que não há como prever qual das 35 vacinas que estão sendo testadas será a que dará maior resultado.

Mike Ryan, chefe de operações da OMS, também fez seu alerta sobre a pressa por parte de alguns em anunciar resultados. Segundo ele, "o fim da pandemia não está próximo". "Estamos todos cansados. Mas temos de lutar até o fim", afirmou.

Para o irlandês, os testes precisam respeitar critérios técnicos e incluir milhares de dezenas de pessoas. Alguns resultados poderão ser anunciados no final de 2020 e início de 2021. Mas a avaliação sobre a segurança do produto terá de continuar.

"Isso leva tempo. E isso não é uma corrida. É uma corrida para salvar vidas, contra o tempo. Não entre empresas e países. Não é competição", alertou. "Mas não vamos apostar em um cavalo até chegar ao final da corrida", disse Ryan.

Sem dinheiro e sem solidariedade

Nesta sexta-feira, a pandemia completa seis meses. Mas, para a OMS, desafios importantes continuam sem ser superados. Para o diretor-geral da agência, Tedros Ghebreyesus, o que lhe deixa mais preocupado é a "falta de solidariedade internacional".

"Quando não temos isso e quando estamos divididos, há uma oportunidade para que vírus ganhe força e é por isso que ele continua a se espalhar", lamentou.

Apelando uma maior liderança global, Tedros indicou que os esforços feitos até aqui "não são suficientes".

De acordo com ele, a iniciativa de reunir uma aliança mundial pela vacina pode fracassar se dinheiro não entrar. Por enquanto, as doações chegam a apenas US$ 2,7 bilhões. Para garantir uma distribuição global da vacina, serão necessários outros US$ 35 bilhões.

Bruce Aylward, chefe do consórcio internacional criado para desenvolver as vacinas, também usa da cautela para falar sobre o momento.

De acordo com ele, declarações de resultados rápidos sobre a vacina são feitos a partir dos cenários mais positivos. Mas Aylward alerta que, por enquanto, nenhuma empresa tem cumprido o cronograma.

"Só teremos os resultados no final de 2020 ou início de 2021, na melhor das hipóteses", disse, lembrando que as previsões apontam para perdas de US$ 12 trilhões para a economia mundial nos próximos dois anos.

Diante dessa situação, ele insiste que o mundo precisa reforçar uma solução coletiva. Mas alerta que, sem dinheiro, não haverá um controle do vírus.