"Órfã" dos EUA, Europa espera uma nova era com a Casa Branca
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Entre os diplomatas europeus, a eleição nos Estados Unidos (EUA) está sendo considerada como um "marco do século 21".
Para alguns dos principais negociadores comerciais do Velho Continente, o que ocorrer na noite de hoje do outro lado do Atlântico poderá não apenas definir a posição americana no mundo. Mas também o futuro da Europa.
Donald Trump, ao assumir, rompeu um dos pilares da estrutura mundial desde 1945: a aliança transatlântica. Sob seu governo, ataques foram direcionados contra a Alemanha, contra a ideia de um bloco europeu e nem os esforços do francês Emmanuel Macron de intermediar um diálogo funcionou.
Um estudo realizado pelo Conselho Europeu de Relações Exteriores ainda revelou que os anos Trump tiveram um impacto real e os europeus perderam a confiança nos Estados Unidos.
Agora, num gesto raro e enquanto as urnas se abrem nos EUA, Berlim manda um recado de que quer um recomeço, usando justamente da diplomacia e da ambiguidade nas palavras para não criar o constrangimento de uma ingerência numa eleição de um outro país.
Oficialmente, ninguém cita a torcida por um ou outro nome nos EUA. Mas o recomeço proposto pelo governo alemão teria nome e sobrenome: Joe Biden.
Chance de retomada nas conversas sobre clima e pandemia
Heiko Maas, chefe da diplomacia alemã, indicou que Berlim buscaria um novo acordo nas relações com Washington após os resultados das eleições. "Desejamos a todos os americanos uma eleição justa, boa e, acima de tudo, pacífica", afirmou. "É uma votação marcante que também determinará a direção e o papel dos EUA no mundo", disse.
"Queremos um novo acordo nesta parceria e estamos prontos para investir no futuro como parceiros transatlânticos para enfrentar juntos estas questões globais", completou.
Em outras palavras: a Europa deseja uma parceria real com os americanos para lidar com a covid-19, mudanças climáticas, a sobrevivência da ONU (Organização das Nações Unidas), a luta contra o terrorismo e a estabilidade internacional.
Isso não significa, porém, que Biden não pressionará a Europa. Observadores em Bruxelas destacam como, de fato, a insistência de Washington para que o Velho Continente pague mais para sustentar a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) começou no governo de Barack Obama, do qual Biden era vice.
Sem os EUA, europeus tiveram de lidar com seus próprios problemas sem ajuda
Biden por si só tampouco significará o fim de uma pressão americana sobre os europeus para que uma frente não seja formada para frear a expansão chinesa.
Mas, para muitas capitais na Europa, sem Trump no comando, haveria uma chance de voltar a falar em buscar soluções.
A eurodeputada Diana Riba i Giner, do Partido Verde, acredita que o fim do governo Trump representaria uma "boa notícia para o mundo inteiro". A onda populista, reacionária, chauvinista e xenófoba que cresceu em todo o mundo nos últimos tempos poderia ter seu primeiro grande revés onde teve sua grande vitória", disse.
Mas Trump também serve como um "despertar" para a Europa. Órfã da relação com a Casa Branca pela primeira vez desde o final da Segunda Guerra Mundial, o bloco foi obrigado a debater seu futuro sem contar com o guarda-chuva da proteção americana.
"Como a maioria dos europeus, eu espero desesperadamente que Trump seja derrotado", disse a eurodeputada holandesa Sophie in t' Veld. Mas ela também alerta: "a presidência Trump tem sido um duro despertar para a Europa".
"Precisamos que os EUA sejam um rochedo de estabilidade"
Segundo a deputada, o rompimento com a Casa Branca deixou claro que os europeus terão de aprender a se manter de pé. E isso exige um fortalecimento substancial da União Europeia como entidade política," num momento em que os governos nacionais preferem manter a UE fraca e tecnocrática".
O ex-primeiro-ministro e atual eurodeputado belga Guy Verhofstadt deixa claro que quer uma vitória de Biden. Mas alerta que isso não será a solução por si só. "Biden não vai resolver nossos problemas de segurança; só nós podemos fazer isso", disse.
Em sua avaliação, Biden não vai desfazer "quatro anos devastadores de Trump", mas sua eleição seria "um começo". O eurodeputado não tem ilusões de que Biden vai ser duro com a Europa. Mas aposta num diálogo "razoável e confiável". "Precisamos que os EUA sejam um rochedo de estabilidade e um parceiro sólido. Por todas essas razões e muitas outras, tem que ser Biden", completou.
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