Isolado, Brasil é único país a apoiar Trump na ONU em voto contra OMS
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O governo dos Estados Unidos (EUA) propôs eliminar referências de apoio à Organização Mundial da Saúde (OMS) em uma resolução na Organização das Nações Unidas (ONU) que sugeria um compromisso global para fortalecer a resposta contra a pandemia da covid-19. Entre todos os governos que fazem parte da ONU, o único país que apoiou a proposta americana foi o Brasil.
Na semana passada, o voto ocorreu no Terceiro Comitê da Assembleia Geral da ONU. O texto original recomenda "o fortalecimento nacional e internacional da resposta ao impacto da pandemia sobre mulheres e meninas".
Mas, tendo anunciado sua ruptura com a OMS, o governo americano apresentou um projeto de emenda sugerindo que um parágrafo inteiro fosse eliminado do texto original. A Casa Branca queria que o texto que reconhecesse o papel central da agência de saúde fosse abolido.
O trecho vetado dizia que governos reconheciam "o mandato constitucional da Organização Mundial da Saúde de agir como autoridade de direção e coordenação do trabalho internacional no domínio da saúde, e reconhecendo o seu papel-chave de liderança no âmbito da resposta mais vasta das Nações Unidas".
Quando a proposta foi colocada à votação, 161 países votaram contra a emenda americana. Cinco países se abstiveram, entre eles nanicos da diplomacia internacional como Haiti, Lesoto e Tonga. Mas apenas um país em todo o mundo saiu em apoio ao governo Trump: o governo de Jair Bolsonaro. Cerca de outros 30 países não compareceram para o voto.
Nenhum outro aliado de Trump — incluindo Israel, Japão, Hungria, Polônia e outros — seguiu o caminho proposto pelos americanos.
Falando em nome de diversos governos de todos os grupos regionais, a diplomacia da Nova Zelândia criticou a emenda americana, alertando que ela ia contra o trabalho do Comitê e que minava os "princípios do multilateralismo".
Brasil não reconhece vitória de Biden; Trump já afirmou que entregará o cargo
Nos bastidores, diplomatas estrangeiros revelaram à coluna que o gesto do governo Trump, mesmo depois de saber que tinha perdido sua eleição doméstica, mostrou a dimensão do radicalismo da Casa Branca no cenário internacional. Joe Biden, o presidente eleito, já indicou que vai voltar à OMS em 2021.
Procurado, o governo brasileiro não explicou o motivo de seu voto. A prática de se recusar a dar explicações sobre seus votos e suas posturas internacionais vem marcando o Itamaraty, que ignora diversos pedidos da imprensa por esclarecimentos sobre sua participação em votos.
Hoje, o governo brasileiro é um dos poucos no mundo que ainda não reconhece a vitória de Biden. O Itamaraty também tem adotado uma postura crítica em relação aos organismos internacionais, fazendo eco ao discurso dos EUA. O próprio presidente Trump afirmou que uma vez consolidada a vitória do rival democrata, ele entregará o cargo.
Na OMS, governos deixam claro que a agência terá de passar por uma reforma e que, de fato, sua gestão da crise foi permeada por falhas. Mas, na visão dos europeus, chineses e de vários países latino-americanos, a solução não é a de marginalizar a entidade. E sim de fortalecê-la.
Indústria farmacêutica critica OMS, mas concorda em fortalecer agência
As críticas também chegam do setor privado. Numa entrevista coletiva nesta sexta-feira, a indústria farmacêutica deixou claro que a entidade precisa passar por um processo de fiscalização maior de seu trabalho.
Para Thomas Cueni, diretor-geral da Federação Internacional da Indústria Farmacêutica, a OMS está hoje "sequestrada pelos países" e que toma decisões com base em "considerações políticas".
Ele ainda critica a forma pela qual a agência conduz sua auditoria diante da pandemia. O comitê criado para realizar o trabalho supostamente independente foi escolhido pelo próprio diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus.
Para a indústria farmacêutica, a entidade tampouco mantém uma relação produtiva com o setor privado e tem um resultado abaixo do esperado em suas ações pelo mundo. Apesar de tudo, o objetivo do setor é fortalecer a agência.
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