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Jamil Chade

Com vacina limitada, América Latina só atinge imunidade em março de 2022

Secretário diz que Saúde planeja comprar 70 milhões de doses da Pfizer -                                 JUSTIN TALLIS / AFP
Secretário diz que Saúde planeja comprar 70 milhões de doses da Pfizer Imagem: JUSTIN TALLIS / AFP

Colunista do UOL

08/12/2020 11h37

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Resumo da notícia

  • Dados revelam que, até final de 2021, Brasil terá a 12a maior capacidade de produção de vacinas no mundo.
  • Volume produzido no Brasil será menos de 10% do total nos EUA ou na Índia.

Um levantamento encomendado pela indústria farmacêutica revela que a América Latina apenas voltará "ao normal" a partir de março de 2022. Os dados se referem à capacidade dos governos de vacinar suas populações numa quantidade suficiente para frear a transmissão e criar uma espécie de imunidade de rebanho.

As informações são da Airfinity, empresa de dados científicos e que apresentou seus resultados em um evento na terça-feira organizado pela Federal Internacional da Indústria Farmacêutica.

Para os líderes do setor privado, a produção industrial e o abastecimento serão os maiores obstáculos a partir de agora. O ano de 2021 será de execução, apontam os executivos.

Pelas projeções, o país que primeiro poderia sair da crise sanitária seria os EUA. Apesar de hoje viver uma situação dramática em termos novos casos e mortes diárias, as autoridades americanos contam com o maior número de acordos comerciais com empresas farmacêuticas. A previsão, portanto, é de que uma imunização mais ampla ocorra no segundo trimestre de 2021.

O Canadá, que comprou vacinas para 600% de sua população, poderia chegar a uma imunização em julho. Já o Reino Unido viria em terceiro lugar, com a normalização em julho de 2021, mesmo sendo o primeiro país no Ocidente a começar uma campanha de vacinação nesta terça-feira.

No caso da América Latina, a previsão é de que a região poderá vacinar 20% da população em julho de 2021. Mas uma imunidade geral só mesmo em março de 2022.

O Brasil, até o final de 2021, teria a capacidade de fabricar 200 milhões de doses, colocando o país na 12ª posição no mundo e superado pela Argentina ou Bélgica. A liderança é dos EUA, com 2,7 bilhões de doses, mesmo número da Índia e 1,8 bilhão da China.

O estudo revela que já existem ordens de compras ou negociações firmes sobre 11 bilhões de doses de vacinas. Mas, segundo um dos autores do levantamento, Rasmus Hansen, não há qualquer sinal de que o mundo poderá ter atingido uma imunidade de rebanho ao final de 2021.

Hoje, 347 vacinas estão sendo desenvolvidas no mundo, além de 1,1 mil remédios para tratamento. A esperança é de que, em 2021, o portfolio global seja robusto.

Para Pfizer, capacidade de produção é maior obstáculo no mundo

Na Pfizer, o presidente Albert Bourla admite que o maior obstáculo no momento atual é a capacidade de produção e de fornecimento. A empresa que negocia com o Brasil prevê a fabricação de 50 milhões de doses em 2020 e outras 1,3 bilhão em 2021 para o fornecimento global.

Segundo ele, a empresa vai ter três preços para sua vacina. O mais elevado é de US$ 19,50 nos EUA. Haverá ainda um preço mais baixo nos países emergentes e a vacina será vendida sem lucros nos países mais pobres.

Bourla ainda revela que a empresa está pesquisando uma nova formulação de sua vacina para que não seja necessário que o produto seja armazenado em locais com 70 graus negativos.

Mas se diz confiante de que, com a operação montada pela companhia, não haverá problema de distribuição de vacinas "em locais onde exista infra-estrutura básica, como estradas".

Em sua avaliação, a falta de certos materiais e de equipamento é o que impede que a produção seja ainda maior. "Exaurimos a nossa capacidade e de nossos fornecedores. Se não fosse por isso, poderíamos produzir 2 ou 3 bilhões de doses", indicou.

Perguntas ainda pairam no ar

Depois de investir US$ 2 bilhões, o executivo admite que não sabe por quanto tempo a vacina protege e quando a segunda dose precisará ser tomada. Mas tanto ele quanto outros do setor alertam que não será autorizado uma pessoa tomar mais de uma vacina, de diferentes empresas.

Ele tampouco sabe dizer se sua vacina vai conseguir parar a transmissão, ou se apenas vai proteger a pessoa que for imunizada.


Críticas contra politização

Para Bourla, porém, um dos grandes desafios será convencer aqueles que temem um impacto negativo da vacina a serem imunizados. "Entendo a preocupação dessas pessoas. Mas elas estão erradas. A vacina é a melhor intervenção médica ja criada", disse.

O problema, segundo ele, é que ela tem sido "severamente politizada" em locais como nos EUA. "As pessoas então não sabem em quem acreditar", lamentou.

Ele garante, porém, que a Pfizer "não tomou atalhos" em termos de segurança e garante que os resultados são "fenomenais". Bourla insiste que a decisão individual de tomar ou não a vacina deve levar em consideração o impacto na saúde de todos.

"Os testes foram iguais a todas vacinas. E foi ainda maior o padrão por conta do escrutínio. Fomos transparentes com dados assim que saíram", disse, lembrando seus cientistas passaram dias e noites acordados. "A lição da pandemia é o poder da ciência", insistiu.

Patentes

Bourla ainda insiste que não será a quebra de patentes que permitirá uma maior produção de vacinas, uma postura que é combatida por ONGs e dezenas de governos em desenvolvimento.

Para ele, se a pandemia ensinou algo ao mundo é que foi o setor privado quem trouxe a solução. "A pandemia confirma o papel do setor privado", insistiu. Sem a patente, ele argumenta que o mundo hoje não teria a inovação exigida para chegar à vacina.