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Jamil Chade

Manaus: "É obrigação apoiar os brasileiros", diz chanceler da Venezuela

27.fev.2019 - Cadeira do Brasil na sala de conferências da ONU, em Genebra, fica vazia durante boicote ao discurso do chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, que discursava na reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas - Jamil Chade/UOL
27.fev.2019 - Cadeira do Brasil na sala de conferências da ONU, em Genebra, fica vazia durante boicote ao discurso do chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, que discursava na reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas Imagem: Jamil Chade/UOL

Colunista do UOL

15/01/2021 11h05

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"É uma obrigação apoiar o povo brasileiro". Foi dessa forma que o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, explicou em entrevista à coluna sua decisão de atender ao pedido de ajuda de Manaus por oxigênio. A cidade vive um colapso de seu sistema de saúde.

Na noite de ontem, nas redes sociais, ele havia anunciado que irá disponibilizar oxigênio para atender os hospitais do estado do Amazonas, que vive uma crise sem precedentes após aumento no número de casos de covid-19.

"Por instruções do presidente Nicolás Maduro, conversamos com o governador do estado do Amazonas, Wilson Lima, para disponibilizar imediatamente o oxigênio necessário para atender o contingente de saúde em Manaus. Solidariedade latino-americana acima de tudo!', escreveu Arreaza.

Para a coluna, ele explicou nesta sexta-feira que os cilindros serão enviados do Brasil para que sejam abastecidos na Venezuela e retornados para Manaus. "O Brasil vai enviar os cilindros para buscar o gás."

Questionado sobre quando isso ocorreria, ele foi claro: "quando queiram".

O governo de Nicolás Maduro passou a ser alvo de ataques por parte de Brasília. O Itamaraty não reconhece o governo como legítimo, denuncia fraude nas eleições e retirou as credenciais para diplomatas venezuelanos no país. Numa intervenção do ministro venezuelano na ONU em 2019, a ministra Damares Alves se retirou da sala em protesto e deixou o assento brasileiro vazio.

Ainda assim, Arreaza insistiu que tal situação não impediu Caracas de atender ao pedido por ajuda. "Em política, a tolerância ideológica é fundamental. Ideologizar as relações internacionais é um erro", alertou.

"O respeito à diversidade é essencial. A solidariedade é um princípio do bolivarianismo e do socialismo", destacou.

O chanceler de Maduro ainda insistiu na necessidade de que haja uma maior solidariedade regional. ""Humanidade acima de tudo. Muito mais entre povos fraternais e vizinhos. É uma obrigação para nós apoiar o povo brasileiro", afirmou.

De acordo com ele, as sanções americanas contra sua economia têm gerado um impacto real. "Se não estivéssemos sofrendo com o bloqueio de quatro anos imposto pelos Estados Unidos, que gerou escassez e restrições, poderíamos ajudar muito mais", alertou.

"Não é uma questão de ajudar com o que temos, mas com o que temos, seja muito ou pouco", completou o ministro.

A coluna consultou o Itamaraty para saber se o governo brasileiro irá soltar alguma nota de agradecimento pelo oferecimento de Caracas. Por enquanto, não houve resposta.

Chá para tranquilizar Araújo

Em dezembro, uma reunião ministerial extraordinária da Conferência Iberoamericana se transformou por alguns minutos em um palco de troca de farpas entre os governos do Brasil e da Venezuela. O encontro organizado de forma virtual tinha como um dos objetivos principais tratar da resposta à pandemia da covid-19. Mas Caracas acusou o Itamaraty liderado por Ernesto Araújo de usar seu tempo de discurso para atacar o governo de Nicolás Maduro, chamando-o de ilegítimo.

Nos últimos meses, o Brasil tem elevado a voz contra Caracas, recebeu o secretário de Estado norte americano, Mike Pompeo, próximo à fronteira.

Naquela ocasião, Arreaza pediu direito de resposta "Queria recomendar ao chanceler do Brasil uma receita. O comandante Fidel Castro estudou muito a moringa, uma planta extraordinária, com propriedades curativas e também tranquilizante", disse. "Eu quero recomendar um chá de moringa, com um pouco de valeriana. Já vai ver como se abre o espaço para a tolerância ideológica, para que possamos inclusive debater", disse. "Podemos inclusive debater eu e o senhor, sozinhos. Eu desafio. Moringa, nos sentamos, falamos de democracia, direitos humanos, da Amazônia, de mudanças climáticas, de geopolítica", afirmou.