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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Cotado para Itamaraty promoveu boicote a evento que homenageava Marielle

Protesto em frente à embaixada do Brasil em Paris - Rosemay Jobrel/AutresBrésils
Protesto em frente à embaixada do Brasil em Paris Imagem: Rosemay Jobrel/AutresBrésils

Jamil Chade e Carla Araújo

Colunista do UOL

29/03/2021 13h35

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Cotado entre os favoritos para assumir o Itamaraty, o embaixador do Brasil na França, Luis Fernando Serra, tem sido um dos maiores defensores do bolsonarismo no exterior e alvo de protestos por parte da sociedade civil. Seus gestos polêmicos preocupam uma parcela das autoridades no Palácio do Planalto.

Serra passou a ser aplaudido pela família Bolsonaro quando decidiu cancelar sua participação em um evento em Paris com acadêmicos ao descobrir que haveria uma homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018 no Rio.

A informação consta de telegramas internos enviados pelo diplomata ao Itamaraty, em Brasília. As mensagens fazem parte de 17 documentos que a chancelaria foi obrigada a fornecer, depois que bancada do PSOL solicitou oficialmente os telegramas internos, instruções e documentos sobre possíveis orientações do Itamaraty a seus postos no exterior sobre o que deve ser dito em relação à morte de Marielle.

No dia 6 de agosto de 2019, o embaixador em Paris indicou que ocorreria o Congresso da Associação de Brasilianistas na Europa. O evento, segundo o documento, reuniria 540 professores e estudiosos do Brasil residentes no continente europeu.

"Convidado para assistir à cerimônia de encerramento do Congresso, fui informado de que o evento ocorrerá em local cedido pela prefeitura de Paris, com a presença da prefeita Anne Hidalgo (Partido Socialista)", escreveu.

"Na ocasião, após a palestra final da conferência, deverá ser dada a palavra à prefeita para "prestar homenagem à brasileira Marielle Franco".

"Na ocasião, a prefeita tornará pública a localização de jardim da capital francesa que receberá oficialmente o nome da vereadora brasileira", explicou. "Ante o exposto, tomei a iniciativa de cancelar minha participação no referido evento."

No dia 26 de setembro, um novo telegrama seria enviado de Paris para a chancelaria no Brasil. Nela, o embaixador informaria sobre a inauguração da praça, que ocorre no dia 22 de setembro.

"A embaixada do Brasil não foi contatada ou convidada para a cerimônia de inauguração do Jardim Marielle Franco na capital da França", explicou.

Ataques contra jornal e senadora

Serra acumula outros episódios. O embaixador foi o autor de uma carta irritada à cúpula do jornal Le Monde, criticando a cobertura do diário sobre o Brasil.

Em 2020, a senadora francesa Laurence Cohen, do Partido Comunista e presidente do grupo interparlamentar de amizade França-Brasil, havia enviado uma carta à embaixada em Paris. Ela questionava o governo sobre as investigações relativas ao assassinato da vereadora.

No dia 3 de fevereiro, a senadora publicou em seu perfil no Twitter um trecho da carta que recebeu como resposta a seus questionamentos.

Serra respondeu agressivamente à legisladora francesa, afirmando que era com "profunda consternação" que observava "que o assassinato de Celso Daniel e o ataque à vida de Bolsonaro não tiveram o mesmo eco na França que o assassinato de Marielle, que foi até objeto de uma mobilização da Assembleia Nacional", apontou.