Topo

Jamil Chade

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Brasil receberá 4 milhões de doses de vacinas da OMS neste fim de semana

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde) - Fabrice COFFRINI / POOL / AFP
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde) Imagem: Fabrice COFFRINI / POOL / AFP

Colunista do UOL

30/04/2021 16h58

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Brasil receberá, no fim de semana, 4 milhões de doses de vacinas do mecanismo da Covax, a aliança criada pela OMS (Organização Mundial de Saúda) para garantir que a distribuição de imunizantes pelo mundo possa ocorrer. O lote de vacinas que chegará ao Brasil será de imunizantes da AstraZeneca/Oxford.

Fontes da agência mundial disseram à coluna que o Ministério da Saúde foi informado do envio na tarde desta sexta-feira (30). Em coletiva no fim do dia, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, detalhou o cronograma:

  • 220 mil doses chegarão amanhã (1º).
  • No domingo (2), virão os cerca de 3,8 milhões restantes, separados em dois voos --um com 1,7 milhão e outro com 2,1 milhões de doses.

Queiroga destacou que o governo federal vai totalizar mais de 17 milhões de doses entre recebidas e distribuídas em cinco dias.

A OMS negocia ainda o envio de mais 4 milhões de doses até o fim de maio.

Atraso no carregamento

As vacinas são produzidas pela AstraZeneca, que tem fábricas na Índia e na Coreia do Sul. O temor era de que, com a crise recente na Índia, o abastecimento fosse afetado. No caso do Brasil, a previsão era de que 4 milhões de doses seriam enviadas em abril. Mas o carregamento acabou sofrendo um atraso relativamente pequeno, em comparação aos demais países.

No total, o Brasil adquiriu 42 milhões de doses da vacina da Covax, o suficiente para atender a 10% da população nacional com duas doses por pessoa. Por enquanto, porém, o país recebeu apenas 1,2 milhão.

A previsão da OMS era de que, até fim de maio, 10 milhões de doses dossem entregues ao Brasil. Mas o cronograma foi afetado diante da escassez do produto no mercado global.

Apelo internacional em coletiva

Mais cedo, em coletiva de imprensa na OMS, Queiroga fez um apelo internacional para que governos de países ricos que tenham doses extras de vacinas examinem a possibilidade de liberar os imunizantes para acelerar a campanha de vacinação no país.

Em reuniões nas últimas semanas, o governo também fez apelos para que a OMS antecipasse envios de vacinas ao Brasil. A agência indicou que faria o "possível e o impossível" para garantir o abastecimento diante do número elevado de mortes no país.

Em abril, porém, as doses prometidas não chegaram e acabarão desembarcando neste fim de semana.

A cooperação entre o governo e a OMS se contrasta com meses de tensão entre o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e a agência. O Planalto atacou a OMS, seu diretor e fez questão de anunciar que não iria seguir as recomendações da entidade. O governo ainda questionou a aproximação dos chineses junto à agência e levantou a possibilidade de seguir caminhos parecidos ao dos Estados Unidos, deixando a OMS.

Em 2020, num dos poucos eventos internacionais do qual participou o ex-ministro Eduardo Pazuello, o general não citou as mortes no país e disse que o Brasil era "líder na recuperação de doentes". Já a ex-embaixadora do Brasil, Maria Nazareth Farani Azevedo, chegou a dizer que o governo agia de forma "consistente" contra o vírus.

Mas, na prática, o governo brasileiro menosprezou mecanismos criados pela OMS, não mandou ministros ou responsáveis para encontros e ainda optou por comprar o número mínimo de vacinas dentro da Covax.

A aliança estabeleceu que governos poderiam comprar doses que seria equivalentes a 10% ou 20% de suas populações. O Brasil optou, depois de resistir por muito tempo, por adquirir o menor volume possível, de 10%.

Mas a chegada de Queiroga na pasta, a queda de Ernesto Araújo (do Itamaraty), a pressão diante de 400 mil mortes e o estabelecimento de uma CPI levaram o Brasil a adotar um novo tom nas negociações.