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De olho em evangélicos, governo quer ser sede de cúpula mundial de religião
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O governo brasileiro quer sediar, em 2022, uma cúpula sobre religião no país. A pauta é um dos carros-chefe da nova diplomacia brasileira e que, ao longo dos últimos dois anos, fechou alianças com governos ultraconservadores para promover a agenda.
O encontro - conhecido como Reunião Ministerial para o Avanço da Liberdade ou Crença Religiosa da Aliança Internacional para a Liberdade ou Crença Religiosa (IRFBA) - deveria ser realizado em 2021. Mas, por conta da covid-19, foi cancelado. O governo quer, ainda assim, manter o evento no Brasil para 2022. Mas, para isso, negocia com os demais parceiros.
As revelações fazem parte de uma resposta que a entidade Conectas Direitos Humanos recebeu ao solicitar, por meio da Lei do Acesso à Informação, esclarecimentos sobre o evento.
Ainda em 2019, o tema passou a ser um dos assuntos que aproximou o Brasil do governo de Donald Trump, além de governos como o da Polônia e Hungria. De fato, no ano passado, a cúpula ministerial foi promovida pelo governo polonês, um dos principais defensores da pauta no cenário internacional, ultraconservador e acusado por entidades de direitos humanos de atacar pautas de gênero.
Num discurso no Conselho de Direitos Humanos neste ano, a delegação brasileira garantiu que "se orgulha de sua cultura de tolerância religiosa, pluralismo e diálogo". Mas insistiu que o Brasil está "firmemente ancorado em nossas fundações cristãs".
O próprio presidente Jair Bolsonaro também usou o seu discurso de abertura na Assembleia Geral da ONU para fazer referências a pautas cristãs e acenar aos grupos evangélicos. "Temos a família tradicional como fundamento da civilização. E a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto e expressão", disse.
Ao citar o Afeganistão e a possibilidade de vistos humanitários, o presidente voltou a indicar que eles seriam concedidos "para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos".
Em reuniões fechadas na ONU, o governo brasileiro também tem insistido em incluir referências a "organizações de fé" quando resoluções são negociadas no Conselho de Direitos Humanos e que citam a sociedade civil.
Se oficialmente o tema do encontro em 2022 é a liberdade religiosa, observadores na ONU destacam que o real motivo da iniciativa é a de promover a liberdade do culto cristão, tanto em países como maioria muçulmana como em debates sobre a laicidade no Ocidente.
Tanto o esforço do governo em sediar a cúpula de religiões como a inclusão de referências cristãs em discursos e resoluções são interpretadas até mesmo dentro do Itamaraty como um sinal do uso da política externa como instrumento para consolidar o apoio evangélico, num momento crítico para a campanha eleitoral de 2022.
Na semana passada, a coluna revelou com exclusividade como, fora do Itamaraty, o governo tem liderado uma diplomacia paralela e que tem a rede ultraconservadora como foco das atenções.
No início de setembro, coube à Secretária Nacional da Família do ministério comandado por Damares Alves realizar uma turnê por vários países, participando de debates e reuniões com grupos religiosos. Ângela Gandra passou por países como Ucrânia, Portugal e Espanha, em encontros com negacionistas, membros da Opus Dei e ultraconservadores.
Oficialmente, o Ministério da Família, Mulheres e Direitos Humanos informou à reportagem que Angela Gandra tirou férias entre os dias 2 e 12 de setembro. «Portanto, ela estava afastada das funções públicas», disse. Mas o governo não respondeu ao ser questionado sobre quem teria pago pela viagem da secretária. A pasta tampouco explicou o que foi tratado em cada uma das paradas da secretária.
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