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Dinheiro público financia o desmatamento, alerta campanha
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Para marcar o Dia Nacional da Pecuária, nesta quinta-feira, uma campanha está sendo lançada para questionar os subsídios recebidos pelo setor e alertar a sociedade que, no fundo, são os contribuintes brasileiros quem estão financiando o desmatamento com dinheiro público.
A iniciativa é do Instituto Escolhas, que quer abrir o debate na sociedade brasileira sobre o tema, usando justamente um dos argumentos do governo de que o Brasil não depende da Amazônia para produzir. "Se já temos terras sobrando para produzir, por que financiar o desmatamento com dinheiro público?", questiona.
A iniciativa ocorre praticamente às vésperas da Cúpula do Clima, em Glasgow, onde o Brasil estará sob forte pressão para demonstrar que está comprometido com a preservação.
"Se o país não precisa desmatar para comer, não faz mais sentido financiar o desmatamento com dinheiro público. Por que não apoiamos com recursos públicos apenas quem produz sem desmatar?", pergunta a entidade.
O Instituto aponta como chefes da pasta da Agricultura no passado e a ministra, Tereza Cristina, vem afirmando quer o Brasil não depende da Amazônia para produzir e que não precisamos mais desmatar para comer. "Não precisamos desmatar para comer, basta aumentar a produtividade", disse a ministra. "Não precisamos da Amazônia. E eu sou uma defensora intransigente de se zerar o desmatamento ilegal", completou.
Para o Instituto Escolhas, de fato é possível zerar o desmatamento - sem impactos na economia - e investir na expansão da produção usando as áreas já abertas para pasto, hoje subutilizadas.
Mas, para isso, os financiamentos públicos devem ser direcionados apenas para quem produz sem desmatar.
Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, os subsídios por ano ao setor foram de R$ 12,3 bilhões, o que corresponde a 79% do que foi arrecadado em impostos na cadeia da carne bovina nesse período, R$ 15,1 bilhões. O levantamento revela uma cadeia altamente subsidiada e com alto impacto ambiental.
Segundo ele, se houvesse um país chamado "Pecuária Brasil", com rebanho que chega a 218,2 milhões de cabeças de gado, ele seria o 20º maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, igual ao que emite a Inglaterra. Ou seja, 462 milhões de toneladas de CO2.
De acordo com o estudo, o valor das emissões de CO2 é de 782 kg de CO2/kg de carne em Roraima e 713 no Amazonas. No restante do país, onde não ocorre taxas de desmatamento em grandes proporções, a pegada é de 23 kg C02.
Citando um estudo do Imazon, Leitão ainda aponta que cerca de 90% da área desmatada na Amazônia é ocupada por pastagens. Para ele, portanto, o estado deve apoiar o setor, mas num esquema condicionado a bons resultados econômicos, sociais e ambientais. "Dinheiro público apenas para quem produz sem desmatar", defende.
O mesmo informe revela que "o Banco do Brasil é, de longe, o maior financiador de empresas de commodities com risco de desmatamento no Brasil (30 bilhões de dólares) devido ao seu papel como o maior operador do Crédito Rural". Os dados ainda mostram que "o BNDES foi o maior provedor de investimentos para empresas de risco de desmatamento operando no Brasil (U$ 3.8 bilhões -abril/2020). Mais da metade dos investimentos do BNDES foi direcionada ao setor de carne bovina", diz.
"O dinheiro público deve incentivar aumento da produtividade e recuperação de áreas já desmatadas", defende Leitão. "O governo deve fazer a sua parte e negar financiamento para quem desmata. É o jeito certo de mostrar que o dinheiro público não financia o desmatamento", completa. "Não é necessário desmatar para produzir comida. Se não precisa desmatar para produzir, por que financiar o desmatamento com dinheiro público?", questiona.
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