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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Indígenas fazem ofensiva com Biden para minar pacto climático com Bolsonaro

Ministra de Joe Biden, Deb Haaland recebe delegação de indígenas brasileiras em Glasgow - Jamil Chade/UOL
Ministra de Joe Biden, Deb Haaland recebe delegação de indígenas brasileiras em Glasgow Imagem: Jamil Chade/UOL

Colunista do UOL

05/11/2021 16h59Atualizada em 05/11/2021 16h59

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Resumo da notícia

  • Em Glasgow, representantes indígenas se reúnem com John Kerry e Deb Haaland para alertar sobre políticas ambientais do governo
  • Indígenas querem que pactos para repasse de recursos considerem não só governos mas também projetos de povos tradicionais
  • Em reunião, indígenas pediram 'socorro' aos representantes de Biden

Um grupo de mulheres indígenas manteve reuniões nesta sexta-feira com ministros do governo de Joe Biden, pressionando a Casa Branca para que adote cautela na aproximação que está promovendo com o governo de Jair Bolsonaro.

Lideranças de povos indígenas que viajaram até Glasgow para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26) ainda querem que recursos avaliados em US$ 1 bilhão que irão para projetos contra o desmatamento considerem as propostas de povos tradicionais, e não apenas de governos e autoridades.

Os encontros, dos quais o UOL participou, contaram com a presença da secretária do Interior dos EUA, Deb Haaland. Antes, o representante americano do Clima, John Kerry, também ouviu um apelo por parte das indígenas brasileiras para que não aceite os posicionamentos de Bolsonaro como uma garantia de uma mudança na política ambiental.

O UOL apurou que, nos últimos meses, a pressão indígena conseguiu frear anúncios de iniciativas conjuntas entre Biden e Bolsonaro. Alguns projetos chegaram a ser costurados no Departamento de Estado norte-americano, mas foram abortados diante da pressão.

Durante o encontro, a secretária de Biden deixou claro que gostaria de ouvir o posicionamento das indígenas e, durante 40 minutos, sua equipe tomou nota do posicionamento de cada uma das mulheres, que representam diferentes regiões do país.

A ofensiva indígena ocorre na semana em que o governo Bolsonaro tentou reduzir a pressão internacional, anunciando uma série de medidas para aderir a medidas de cortes de emissões de CO2, metano e proteção da floresta. Parte da postura brasileira é resultado de uma negociação com Kerry e o governo americano.

Neste fim de semana, oito governos estaduais ainda vão anunciar a assinatura de um acordo com a coalizão Leaf, que promete destinar US$ 1 bilhão de países ricos e empresas para a preservação ambiental.

Mas, para as indígenas brasileiras, os anúncios do governo não condizem com a realidade do país ou dos territórios indígenas.

"Pedimos socorro", disse Puyr Tem Bé, presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará, à delegação da secretária americana. "Estamos sofrendo ataques e passamos por um período difícil", afirmou a representante indígena, que denunciou um "genocídio".

Sonia Guajajara, presidente da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), insistiu que apenas haverá uma mudança real na postura ambiental do governo se demarcações de terras forem retomadas, assim como investimentos nos órgãos de controle. Já nos primeiros dias de governo, Bolsonaro anunciou que não iria realizar qualquer demarcação no país durante sua gestão.

Nós trouxemos uma mensagem muito direta: sem um reconhecimento à demarcação de territórios indígenas não há solução para a crise climática. Não há uma tecnologia mais avançada que uma árvore"
Sonia Guajajara, presidente da Apib

Ministra dos EUA Deb Haaland se reúne com indígenas brasileiras  - Jamil Chade/UOL - Jamil Chade/UOL
Ministra dos EUA Deb Haaland se reúne com indígenas brasileiras
Imagem: Jamil Chade/UOL

"Não passa de mais um anúncio mentiroso. Não é uma mentira apenas para nós. É para o mundo", disse. "O governo faz anúncios, mas na prática ocorre totalmente o contrário. Bolsonaro não é um perigo apenas para os indígenas, mas para o mundo", afirmou.

Além de alertar para as políticas do governo, as indígenas pedem que os investimentos e recursos que serão anunciados durante a COP26 para florestas não tenham apenas os governos como destinos. Elas querem que povos indígenas façam parte das consultas e que sejam considerados na definição do destino do dinheiro.

Durante o encontro, outras lideranças ainda pediram que o governo americano adotasse medidas para frear a importação de produtos agrícolas brasileiros que tenham como origem áreas recentemente desmatadas.

De acordo com Sonia Guajajara, Kerry respondeu que está "ciente" da situação dos povos indígenas e das respostas do governo brasileiro.