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Com dois 'Brasis', COP26 vira palco de ruptura entre sociedade e governo
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De um lado, um país engravatado e protocolar. De outro, uma sociedade diversa, colorida, intensa, mobilizada e resistente. Na Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, em Glasgow, existem dois países chamados Brasil. E isso se reflete no fato de a nação ser uma das poucas a ter dois espaços num pavilhão dedicado aos países.
A delegação brasileira é a maior da COP26, com quase 500 pessoas. Mas está dividida. Num estande do governo federal, a destruição da floresta, o desmatamento recorde e o desmonte das políticas ambientais são camufladas em um design verde, que imita a floresta. Mas apenas imita.
Por ali, passam empresários e mesmo governadores estaduais, além de dezenas de representantes dos diferentes órgãos federais.
A poucos metros dali, num outro pavilhão conhecido como Brazil HUB, movimentos sociais, causa negra, indígenas, cientistas, deputados de oposição, pesquisadores, ambientalistas e defensores de direitos humanos se alternam num palco criado para debater a crise no país. Mas também para buscar soluções e se apresentar como interlocutores aos investidores estrangeiros. O local é bancado por entidades como IPAM, iCS e ClimaInfo.
Os encontros, que chegam a ficam com lotação máxima, não medem críticas ao governo de Jair Bolsonaro. Mas, ao mesmo tempo, tentam provar ao mundo que o negacionismo não é majoritário no país. Pelas paredes, fotos de Sebastião Salgado, no que é um ato de resistência pela sobrevivência de grupos indígenas. O próprio fotógrafo estará no local nesta segunda-feira (08).
Diante de um governo federal tóxico, o que se vê nos bastidores e nas reuniões bilaterais são parceiros internacionais que optam de forma deliberada por sair em busca de interlocutores que não exijam passar por Bolsonaro ou seu time.
Na semana passada, um ato de assinatura de um protocolo de intenções entre os governos estaduais e financiadores externos lotou o pavilhão "alternativo" do Brasil. Ao sair, o ministro do Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, foi diplomático para não romper relações com o governo Bolsonaro. Mas deixou claro que gostaria de ver mudanças na postura do Brasil.
Não faltam nem mesmo suspeitas de que alguns dos curiosos a visitar o "Brasil alternativo" sejam representantes infiltrados do governo, tomando nota de tudo o que se fala. Há dois anos, em Madri, um escândalo eclodiu quando foi revelado que a Abin havia enviado seus homens para monitorar os movimentos sociais.
Tabata Amaral (PSB-SP), uma das deputadas que participa da Conferência sobre Mudanças Climática da ONU em Glasgow, insistiu que sua própria presença na Escócia e no pavilhão alternativo tinha como objetivo mostrar ao mundo que existem interlocutores comprometidos com o meio ambiente.
"O mais importante é mostrar ao mundo que o negacionismo não é unanimidade do Brasil e que outras pessoas não estão paradas", disse. Nos últimos dias, Tabata participou de diversas reuniões com fundos e representantes estrangeiros. "Estamos dizendo que tem gente, tem braço. Não vamos esperar o governo federal", disse.
Segundo ela, há um "discurso bonitinho que não está colando" do governo federal e os atores internacionais sabem disso.
A deputada ainda conta como não conseguiu entrar na comissão oficial para a COP26 criada pela Câmara, sob a batuta do presidente da casa, Arthur Lira. Segundo ela, a delegação foi montada para garantir uma forte presença de aliados do governo Bolsonaro. Na lista dos inscritos está a deputada Carla Zambelli.
Em 2019, ela publicou um comentário em suas redes sociais questionando o aquecimento global. Hoje, preside a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados.
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