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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Brasil terá 3ª pior taxa de expansão real do PIB no mundo em 2022, diz ONU

Presidente Jair Bolsonaro e ministro da Economia, Paulo Guedes - ADRIANO MACHADO
Presidente Jair Bolsonaro e ministro da Economia, Paulo Guedes Imagem: ADRIANO MACHADO

Colunista do UOL

13/01/2022 14h00Atualizada em 13/01/2022 17h49

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Resumo da notícia

  • Crescimento de apenas 0,5% no ano é a pior taxa entre as maiores economias do mundo
  • Entre mais de 170 países, só Mianmar e Guiné Equatorial terão desempenho mais fraco que o Brasil
  • Economia nacional tampouco conseguirá acompanhar expansão da economia mundial em 2023

O ano de 2022 será de recuperação da economia mundial. Mas de estagnação para o Brasil. De acordo com a ONU, o PIB brasileiro terá um dos desempenhos mais fracos do mundo neste ano, com a menor taxa real de crescimento entre todas as grandes economias do planeta. Entre as mais de 170 economias analisadas, o Brasil só terá um desempenho melhor em expansão do PIB que a Guiné Equatorial e Mianmar.

Os dados estão sendo publicados nesta quinta-feira pelo departamento econômico das Nações Unidas. De acordo com a entidade, a economia nacional sofrerá uma expansão de apenas 0,5% em 2022, em comparação ao ano de 2021. A previsão é 1,7 ponto percentual abaixo do que a ONU havia estimado para o Brasil em seu último informe no ano passado.

A taxa brasileira está longe do crescimento médio da economia mundial, estimada para atingir 4% em 2022. Enquanto a ONU rebaixou as previsões para o Brasil, a agência elevou suas estimativas para o resto do mundo.

A ONU também prevê que, em 2023, o país continuará a registrar a pior taxa de crescimento do PIB entre as principais economias do mundo. A expansão no Brasil no ano que vem será de 1,9%, contra um aumento da economia mundial de 3,5%.

Em 2021, a economia nacional teve uma expansão de 4,7% em comparação ao ano de 2020, quando a pandemia jogou o PIB global num momento de recessão. Mesmo assim, naquele momento, a taxa brasileira já tinha ficado abaixo da média mundial, de 5,5% e que foi a maior desde 1976.

Em 2022, o Brasil continuará a não acompanhar o ritmo médio mundial. Nos países ricos, a expansão média será de 3,7%, contra 4,5% nos emergentes. Mesmo na América Latina, o crescimento do PIB será bem superior ao brasileiro, com 2,2%.

No restante do mundo, ONU alerta que a recuperação da economia global ainda vive as incertezas da pandemia, do impacto da variante ômicron, da pressão inflacionária e dos desafios no mercado de trabalho. Para completar, bancos centrais começam a retirar seus pacotes de ajuda criados para evitar um colapso internacional, com implicações consideráveis.

Entre as maiores economias do mundo, essas são as previsões para o ano de 2022:

Índia 6,7%
Arábia Saudita 6%
Egito 5,9%
China 5,2%
Indonésia 4,9%
Reino Unido 4,5%
Itália 4,2%
UE 3,9%
Canadá 3,9%
Alemanha 3,9%
Turquia 3,7%
França 3,6%
EUA 3,5%
Japão 3,3%
Espanha 3%
Coreia 3%
México 2,9%
Nigéria 2,8%
Rússia 2,7%
África do Sul 2,3%
Argentina 2,2%
Brasil 0,5%

Brasil só perde para países em turbulência social e política

Pelo levantamento da ONU, apenas dois países registrarão no mundo uma taxa de crescimento mais baixa que a da economia nacional. Trata-se de Guiné Equatorial, com uma contração de 0,6%, e de Mianmar, com redução de 0,8%. Ambos vivem turbulências políticas importantes. Também se aproxima da taxa brasileira a economia da Zâmbia, com 0,9% de crescimento para 2022.

Na avaliação da ONU, parte da explicação para o resultado fraco do Brasil está relacionada com a perda de força das commodities.

"Embora os exportadores de commodities da América do Sul tenham liderado a recuperação na pandemia da região, suas perspectivas de crescimento para 2022 e 2023 são reduzidas", alertou o informe da agência.

"Os preços mais altos das commodities, a demanda da China e dos Estados Unidos e as condições financeiras globais favoráveis irão gradualmente desvanecer-se. Ao mesmo tempo, espera-se que os bancos centrais apertem a política monetária para combater o rápido aumento das pressões inflacionárias", explica.

"Os governos se afastarão cada vez mais do estímulo fiscal e caminharão para a consolidação das finanças públicas. No conjunto, espera-se que estes fatores reduzam o crescimento do PIB na América do Sul para apenas 1,6% em 2022", indica a ONU.

O impacto também será sentido no mundo do trabalho. "Os mercados de trabalho da região tiveram uma recuperação apenas parcial e desigual após sofrer um choque sem precedentes durante os estágios iniciais da crise da covid-19", indica a ONU.

"Enquanto a atividade econômica se recuperou, a criação de empregos foi insuficiente em termos de quantidade e qualidade. Na maioria dos países, as taxas de desemprego permaneceram significativamente mais altas e as taxas de participação mais baixas do que antes da pandemia", diz.

Sem um forte crescimento das economias, o informe destaca que existe o risco de que as taxas de desemprego possam aumentar ainda mais nos próximos anos, à medida que as pessoas voltem a buscar trabalho. "Os riscos de desemprego de longo prazo são maiores para grupos atingidos particularmente duramente pela pandemia, incluindo jovens, mulheres e trabalhadores menos instruídos", diz.

De uma forma geral, a recuperação da América Latina "tem sido insuficiente para reverter os danos da pandemia, que empurrou milhões para fora do trabalho e para a pobreza".

"Com o retrocesso de condições positivas globais e as fraquezas estruturais exacerbadas pelo ressurgimento da pandemia, a região enfrenta a perspectiva de uma forte desaceleração econômica, com o crescimento voltando à sua fraca tendência pré-crise", destaca.

O PIB real da região expandiu-se cerca de 6,5% em 2021, após a contração de 7,4% em 2020, o maior recuo da região em 120 anos. Mas o crescimento é projetado para uma média de apenas 2,2% em 2022 e 2,5% em 2023.

Impacto da pandemia deve frustrar planos de erradicar extrema pobreza até 2030

De acordo com a ONU, a vacinação foi fundamental nesse cenário econômico. Mas a agência destaca como a participação da América Latina e do Caribe no número de mortos da COVID-19 é a mais alta do mundo.
"Em meados de novembro de 2021, a região foi responsável por 30,1% das mortes globais por causa da pandemia, tendo apenas 8,4% da população mundial", alertou.

No entanto, as disparidades nas taxas de vacinação continuam sendo grandes. Nas Bermudas, Chile, Cuba e Uruguai, mais de 75% das pessoas estão totalmente vacinadas em comparação com menos de 20% na Jamaica e menos de 1% no Haiti.

Pandemia está "longe de terminar"

Mesmo com o avanço da vacinação, a ONU aponta que a "pandemia da covid-19 está longe de ter terminado". "De 1º de abril a 1º de dezembro de 2021, uma média de 9.432 pessoas morreram todos os dias em todo o mundo, significativamente maior do que as 6.061 mortes por dia registradas durante o mesmo período em 2020", indicou.

No início de dezembro de 2021, as mortes relacionadas à covid-19 desde o início da pandemia atingiram 5,2 milhões. No entanto, o número total de mortes direta e indiretamente atribuíveis à pandemia é muito maior. "O excesso de mortes tem sido maior em algumas economias em transição e em vários países da Europa Oriental e da América Latina", disse.

Segundo as projeções, diante da ômicron, a reintrodução de restrições poderia restringir significativamente as atividades econômicas. "Embora o impacto real seja impossível de avaliar antecipadamente, novas variantes poderiam prejudicar seriamente a confiança no mercado e descarrilar as recuperações econômicas", disse a ONU.

A moral dos trabalhadores também pode ser afetada, apresentando riscos de queda para uma recuperação já lenta dos mercados laborais e intensificando as interrupções da cadeia de suprimentos. "A tão esperada recuperação das indústrias de serviços e viagens também poderia ser ainda mais adiada", alertou.

Diante do cenário, a ONU já admite que sua meta de erradicar a extrema pobreza até 2030 pode ser abandonado. "O progresso na redução da pobreza extrema tem sido retardado por vários anos na maioria dos países", disse. Botsuana, Quênia, Marrocos e Samoa estão entre os países que perderam até uma década de esforços para a erradicação da pobreza.

Segundo a entidade, mais 85 milhões de pessoas entraram na pobreza extrema em 2020 globalmente.

"Prevê-se que este número permaneça bem acima dos níveis pré-pandêmicos durante os próximos anos, provavelmente em níveis recordes da última década. Apenas ligeiras quedas são esperadas em 2022, para cerca de 876 milhões de pessoas. As economias em rápido desenvolvimento no Leste e Sul da Ásia, bem como as economias desenvolvidas, provavelmente verão uma redução na pobreza a curto prazo. Mas espera-se que aumente ainda mais nas economias mais vulneráveis do mundo", completou.

Inflação preocupa

Outra constatação da ONU se refere à inflação, que atingiu os países emergentes de maneira importante. Para 2022, a taxa prevista de inflação para o Brasil deve ser de 6,9%, abaixo dos níveis de 2021. Mas distante do que foi registrado no período entre 2016 e 2019.

"Os preços mais altos do petróleo aumentaram as pressões inflacionárias em países importadores de petróleo, como Brasil, Índia e Cingapura, o que poderia desencadear um aperto adicional da política monetária e causar um retrocesso na recuperação", alerta.

"Enquanto a OPEP está eliminando gradualmente os cortes de produção para atender à demanda em recuperação, os principais produtores de petróleo continuam relutantes em liberar capacidade de produção excedente devido às incertezas relacionadas à pandemia", diz.

O informe destaca como alguns dos principais bancos centrais anunciaram planos para reduzir os pacotes de socorro à economía, gerando mudanças nas condições monetárias e com impacto nos emergentes.
"Os bancos centrais aumentaram as taxas de juros em um número crescente de países, incluindo Brasil, Chile, Hungria, México, Federação Russa e África do Sul. Em 2021, alguns bancos centrais, por exemplo no Brasil e na Federação Russa, tomaram medidas drásticas, aumentando as taxas de juros em 725 e 325 pontos-base, respectivamente", disse.

Mesmo assim, a inflação média dos preços ao consumidor acelerou na América Latina a um ritmo estimado em 11,3% em 2021, o ritmo anual mais rápido em mais de duas décadas. Em outubro, a inflação anual excedeu a meta do banco central em todas as grandes economias - Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru.

"O Banco Central do Brasil embarcou no ciclo de aperto mais agressivo da região, elevando sua principal taxa de juros de 2% no início do ano para 7,75% no final de outubro e projetando que a taxa chegará a 9,75% em 2022", disse.

Vários outros bancos centrais, por exemplo, no Chile, Colômbia e Peru, aceleraram o aperto no final de 2021. «Embora o ciclo de aperto monetário deva continuar em 2022, a questão é como os bancos centrais irão aumentar agressivamente os custos de empréstimo", questionou.

"Como a atual pressão ascendente se deve em parte a fatores globais e do lado da oferta, o aperto acentuado da política monetária pode não ser eficaz na redução da inflação e pode minar uma recuperação frágil e incompleta. Se isso levar a um aumento da entrada de capital e das apreciações da taxa de câmbio, poderá prejudicar as exportações", completou a ONU.