Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Guerra gera racha entre Brasil e potências ocidentais no G20
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O governo brasileiro se une a outros países em desenvolvimento para tentar blindar as organizações internacionais contra a ofensiva de Estados Unidos e Europa contra a Rússia. O temor do Itamaraty é de que, na lógica de isolar Vladimir Putin, a pressão internacional acabe sequestrando as agências técnicas da ONU (Organização das Nações Unidas), além do trabalho do G20 e outros organismos.
O racha entre as potências ocidentais e os emergentes já ficou claro em alguns fóruns internacionais e, segundo fontes diplomáticas, a tensão pode aumentar à medida que a guerra na Ucrânia se prolongue.
Desde o início da guerra, o Brasil adotou uma postura de votar pela aprovação de resoluções que condenavam o ataque russo. Isso aconteceu no Conselho de Segurança da ONU, na Assembleia Geral e no Conselho de Direitos Humanos. Em discursos, o Itamaraty deixou claro que nada justificava a invasão de um outro país por parte da Rússia e nem rasgar a Carta das Nações Unidas.
Mas a ofensiva liderada por americanos e europeus de neutralizar Moscou foi ampliada e a ordem na diplomacia desses países é a de usar todas as entidades para condenar a Rússia e conseguir seu isolamento político. A meta é não apenas a de sufocar economicamente o Kremlin mas também transformar Vladimir Putin em um pária internacional.
Para isso, americanos e europeus têm liderado uma verdadeira guerra nos bastidores, buscando apoios para que resoluções e medidas sejam adotadas em todos os organismos internacionais e fóruns de debate.
Se o Brasil concorda que a Rússia violou o direito internacional, a preocupação no governo é de que tal movimento acabe contaminando os trabalhos técnicos das entidades que lidam com temas específicos como saúde, educação ou telecomunicações.
Um dos focos é ainda o G20, considerado como o diretório do planeta e onde as maiores economias se reúnem para definir o destino do cenário internacional.
De acordo com fontes do alto escalão do Itamaraty, os diplomatas brasileiros estão trabalhando diariamente para manter o G20 intacto. Ou seja, evitar que o grupo passe a ser instrumentalizado por EUA e Europa para pressionar Putin e que seu mandato seja preservado.
O Brasil, neste ano, está atuando ao lado da Indonésia, que hoje está na presidência do G20 e também defende que o grupo seja mantido como um foro de cooperação econômica e de desenvolvimento, mantendo seus trabalhos.
Tanto o Brasil como a Indonésia votaram da mesma forma na Assembleia Geral da ONU.
Mas, segundo fontes no Planalto, frente a um movimento descrito como sendo de "sequestro" dos organismos internacionais, ambos estão trabalhando para preservar o G20 e o sistema multilateral.
Na avaliação do Brasil, tais espaços precisam continuar sendo "inclusivos e plurais" para dar conta das urgências humanitárias que a guerra está causando, tanto no aspecto de energia como alimentação.
O mesmo vale para a OMC e organizações multilaterais especializadas e técnicas. Na agência de comércio, por exemplo, uma aliança foi montada por americanos e europeus para retirar da Rússia direitos comerciais. Mas nem Brasil, Índia, China, África do Sul e outros emergentes se uniram à iniciativa.
Nesta semana, na Unesco, o Brasil adotou uma postura de abstenção em uma resolução que propunha condenar a Rússia por ataques contra a liberdade de expressão, cultura e educação na guerra. Ao lado do Brasil estavam ainda países como China, Índia e África do Sul.
Mais uma vez, o objetivo da abstenção era o de não chancelar o movimento de americanos e europeus de usar a entidade como instrumento de pressão sobre Moscou.
Mesmo na FAO, o governo brasileiro quer liderar um pedido para que fertilizantes possam ser excluídos da lista de embargos contra a Rússia. Brasília, pressionada pelo agronegócio, irá alegar que tais medidas ameaçam ampliar a fome no mundo.
Na próxima semana, na OIT (Organização Internacional do Trabalho), uma vez mais potências ocidentais vão tentar passar uma resolução contra a Rússia, colocando os emergentes em um teste.
Manipulação russa
Entre diplomatas europeus, há uma compreensão de que a posição brasileira e de outros emergentes poderia fazer sentido. Mas, segundo capitais europeias, um risco maior que o uso das entidades internacionais é a invasão promovida por Putin e a ameaça que ele representa para a segurança europeia.
Um outro temor por parte dos europeus é de que essa postura dos emergentes enfraqueça a mobilização internacional para punir o Kremlin pelos crimes cometidos na Ucrânia e que permita brechas para que Putin mantenha uma invasão que a Corte Internacional de Justiça já declarou que precisa ser encerrada de forma imediata.
Para os europeus, o próprio governo russo já está se utilizando desse racha na comunidade internacional para dizer à sua população de que não existe um isolamento internacional do país.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.