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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Bolsonaro quer usar reunião com embaixadores para provar suposto 'respaldo'

Bolsonaro em reunião com chefes de missões diplomáticas, em Brasília - Clauber Cleber Caetano/PR
Bolsonaro em reunião com chefes de missões diplomáticas, em Brasília Imagem: Clauber Cleber Caetano/PR

Colunista do UOL

19/07/2022 10h35

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O encontro entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e embaixadores estrangeiros, ontem (19), em Brasília, deve ser manipulado pelo governo para desinformar sua base, nas redes sociais, sobre a existência de um suposto respaldo internacional no que se refere aos questionamentos sobre as eleições no Brasil.

Durante o encontro, o chefe de Estado voltou a questionar as eleições de outubro, atacou as urnas e o Judiciário. Imediatamente, vozes dentro do governo alertaram para possíveis crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente, enquanto a palavra "traição" passou a ser usada em relação às atitudes de Bolsonaro contra o país.

Observadores dentro do próprio Executivo reconhecem que tais denúncias serão ignoradas pela cúpula do governo. Mas o encontro fazia parte de uma estratégia para convencer a base mais radical de que as reivindicações foram ouvidas e que, portanto, um questionamento até mesmo nas ruas seria legítimo.

"O que importava era a foto de Bolsonaro com a comunidade estrangeira", disse um interlocutor dentro do Executivo. "As delegações estrangeiras foram usadas", constatou outro.

Nos grupos bolsonaristas, o material divulgado será o de que os ataques do presidente contra a eleição não são condenados pelo restante do mundo, e que as denúncias de golpe se limitam à esquerda brasileira.

Em parte do Executivo, a avaliação é que não se pode esperar pelo resultado da eleição para, depois, questioná-la. Nesse cenário, o temor do bolsonarismo é que se repita a situação da derrota de Donald Trump, que não conseguiu reverter sua situação política.

Para isso, os ataques precisariam ocorrer antes, inclusive para eventualmente forçar um adiamento do pleito. Um período considerado como estratégico é entre 7 de setembro e 2 de outubro.

Alguns embaixadores estrangeiros contaram que deixaram a reunião constrangidos de terem participado da manipulação promovida pelo Palácio do Planalto. Mas admitiram que, diante do convite, não tinham como não enviar um diplomata para o encontro com o chefe máximo da nação onde estão representados.

A coluna apurou que vozes do alto escalão do Itamaraty tentaram convencer Bolsonaro a não realizar o encontro, argumentando que poderia ampliar a crise internacional de reputação do país e abrir temores no exterior de um possível golpe. Mas os aliados mais próximos do presidente insistiram na realização do encontro.

Nesta terça-feira (19), alguns telegramas enviados por embaixadas estrangeiras no Brasil às suas capitais traziam um alerta aos seus respectivos governos: existe o risco real de um caos político no país nos próximos meses.