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Com ditaduras, Brasil se opõe na ONU a debater direitos humanos na China
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O governo de Jair Bolsonaro se mostrou contrário à proposta de europeus e americanos de colocar na agenda da ONU um debate sobre as acusações de violações de direitos humanos na China.
A proposta irá à votação e, segundo diplomatas brasileiros, o Itamaraty ainda não deu orientações sobre qual deve ser a postura do país. Mas, durante os debates para a apresentação da resolução, a chancelaria brasileira deixou claro que resistia à ideia e que não via motivo para a convocação do encontro.
A postura brasileira coincide com algumas das principais ditaduras no mundo, também contrárias à realização de um debate sobre a situação chinesa. Cuba e Venezuela também são contrárias ao projeto.
O que gerou a elaboração da proposta de um encontro oficial foi a apresentação de um informe, ainda sob a gestão da chilena Michelle Bachelet, e que constatou graves violações de direitos humanos cometidos pelo governo de Pequim. O foco era o tratamento dado à população Uigur e, de acordo com o informe, as suspeitas indicam crimes contra a humanidade cometidos pelos chineses.
O governo da Nicaragua, criticado por Bolsonaro no discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, também assinou uma carta aos representantes das Nações Unidas protestando contra a publicação do informe contra a China.
Durante as reuniões preparatórias e nas quais se negociava o texto da resolução, a delegação brasileira tomou a palavra para mostrar que não estava de acordo com a iniciativa de realizar um debate sobre o China. Para o Itamaraty, esse não seria o momento adequado e tal proposta ameaça "polarizar ainda mais o Conselho de Direitos Humanos" da ONU.
O governo Bolsonaro, que também já trabalhou nos bastidores na ONU contra uma investigação sobre o racismo da polícia americana, insistiu que o órgão internacional não poderia agir de modo "seletivo" sobre quais países deveriam ser examinados.
Em conversas com a coluna, fontes em Brasília confirmaram a postura do Itamaraty sobre o tema. Oficialmente, porém, a chancelaria se manteve em total silêncio ao ser questionada pela reportagem.
Essa é a primeira vez que uma resolução sobre violações de direitos humanos na China será considerada na ONU, ampliando a tensão entre Washington e Pequim. Chineses e seus aliados acusam o Ocidente de estar instrumentalizando o debate de direitos humanos para pressionar adversários geopolíticos.
Mas a postura do Brasil frustrou entidades de direitos humanos. Zumretay Arkin, do Congresso Uigur Mundial, foi um dos que criticou o governo Bolsonaro. "Diante de graves abusos, incluindo crimes contra a humanidade e genocídio, o Brasil optou por olhar para o outro lado", disse. "Sua relutância até mesmo em ter um diálogo significativo no Conselho de Direitos Humanos é condenável e deve ser chamada", afirmou.
Raphael Viana, da entidade International Service of Human Rights (ISHR), também questionou o posicionamento do Itamaraty. "O Brasil, como membro do Conselho de Direitos Humanos, está frente à uma escolha simples: apoiar ou não um diálogo, para que todos os governos, China incluída, possam expressar suas opiniões", afirmou.
"Se o Brasil não apoiar, está barrando a simples possibilidade de governos conversarem sobre um relatório da ONU que alega possíveis crimes contra a humanidade", completou.
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