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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Corrupção, traficantes e até a Fifa: as polêmicas do banco suíço em crise

Credit Suisse tem prejuízo menor que o esperado no 4º trimestre - Shutterstock
Credit Suisse tem prejuízo menor que o esperado no 4º trimestre Imagem: Shutterstock

Colunista do UOL

16/03/2023 04h10

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Na sólida economia suíça, os bancos contam com um lugar especial e são verdadeiros pontos de referência. Para alguns, chegam a ser até mesmo parte da identidade nacional. Mas, nos últimos anos, o acúmulo de escândalos envolvendo o Credit Suisse vem causado constrangimento e forte preocupação num dos países mais estáveis do mundo.

A instituição está na categoria dos bancos "grandes demais para quebrar", o que significa que um abalo na entidade poderia desestabilizar a economia do país. Não por acaso, as autoridades suíças deixaram claro que não vão hesitar em sair ao resgate do banco.

Sua história, no fundo, se confunde com a própria história do desenvolvimento econômico da Suíça. Criado em 1856 pelo jovem Alfred Escher, o Schweizerische Kreditanstalt (ou Credit Suisse, em francês) financiou a construção da rede rodoviária e projetos de infraestrutura que transformaram para sempre a economia nacional. Passou a ser considerado como parte do "orgulho" do país e sua expansão pelo mundo era uma prova da "excelência" dos serviços suíços.

Mas a história mudou radicalmente nos últimos anos. Se a instituição é responsável por uma gestão de US$ 1,5 trilhão, seus escândalos chacoalharam o sofisticado sistema financeiro do país alpino e ajudaram a revelar uma dimensão até então camuflada a todo custo.

Em 2022, o segundo maior banco do país registrou perdas de mais de US$ 7 bilhões, criando seu pior cenário desde a quebra do Lehman Brothers, em 2008. Um ano antes, as perdas já tinham superado a marca de US$ 1,5 bilhão e a crise, ao final do ano passado, apenas se aprofundou.

As autoridades suíças ainda indicaram que o banco ignorou de forma deliberada mais de cem sinais de alertas sobre sua situação financeira, enquanto buscava investimentos de alto risco.

Esse porém, não foi o único problema. Em 2018, a Autoridade de Supervisão do Mercado Financeiro concluiu que o banco falhou no combate à lavagem de dinheiro em casos de corrupção envolvendo a Petrobras, a estatal venezuelana PDVSA e mesmo os cartolas da Fifa.

No total, a Operação Lava Jato identificou 38 contas no Credit Suisse e seus bancos associados, entre eles o Clariden Leu.

Naquele momento, o órgão de controle do sistema financeiro anunciou medidas para corrigir a atuação do banco, o fortalecimento de regras de combate à lavagem de dinheiro e a criação de uma comissão independente para monitorar a implementação das medidas dentro do banco. Nenhuma multa, porém, será aplicada.

A conclusão foi de que o banco "infringiu suas obrigações de supervisionar o combate à lavagem de dinheiro em todos os três casos". As falhas ocorreram ao não identificar propriamente os clientes, não determinar os beneficiários de contas em nome de offshores e ainda o de não identificar riscos de uma relação comercial.

O banco também falhou ao não realizar esclarecimentos necessários e pedir informações aos clientes sobre a origem dos recursos. Num comunicado, o banco insistiu que colaborou com as investigações e que estabeleceu uma série de medidas para corrigir os problemas identificados. A instituição financeira ainda aponta que muitos dos casos foram "herdados" quando o banco adquiriu outros negócios.

Traficantes, espiões e morte misteriosa

O banco ainda mergulhou em outros escândalos. Ele sofreu uma condenação penal por receber dinheiro do tráfico de drogas em suas contas e foi implicado em um escândalo de corrupção no continente africano.

O Credit Suisse passou a ser o primeiro banco a ser alvo de uma ação criminal na Suíça. Os promotores suíços acusaram o banco de ter permitido que um grupo de contrabandistas de cocaína búlgaros lavasse 146 milhões de euros em dinheiro da droga através de contas do Credit Suisse.

De acordo com um consórcio internacional de jornalistas, um dos clientes do banco era Carlos Luis Aguilera Borjas, um ex-chefe da espionagem da Venezuelana e aliado de de Hugo Chávez.

Na lista de clientes estava ainda violadores de direitos humanos e criminosos, além de monarcas. Ela incluía a família de um chefe da inteligência egípcia que supervisionava a tortura de suspeitos de terrorismo para a CIA, um italiano acusado de lavar fundos criminosos para o grupo criminoso Ndrangheta e até o rei Abdullah 2º da Jordânia, dono de uma única conta que chegou a ter de 230 milhões de francos suíços (US$ 223 milhões), mesmo quando seu país arrecadou bilhões em ajuda externa.

O banco respondeu às alegações naquele momento indicando que gestão de risco estava "no centro" de sua ação. "Embora se recusasse a discutir clientes individuais, o banco disse que eles eram "predominantemente históricos". Ou seja, um problema do passado.

A guerra interna também marcou o noticiário sobre o banco. Em 2019, foi revelado que a cúpula da instituição contratou espiões para acompanhar um de seus executivos. A história ainda envolveu suspeita de traição, briga de vizinhos, demissões e até uma morte misteriosa de um dos intermediários da empresa responsável pela espionagem.