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Dilma quer expansão do banco dos Brics e não descarta moeda única
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A presidente do Banco dos Brics, Dilma Rousseff, afirmou nesta terça-feira que um de seus objetivos é o de expandir a instituição financeira e não descarta pensar na ideia de uma moeda única entre os países que formam parte do bloco.
Dilma concedeu sua primeira entrevista coletiva em Xangai, na sede do banco, desde que assumiu a presidência da instituição, em abril. Nesta semana, o NDB - o nome oficial do banco - realizou sua reunião anual.
Segundo a ex-presidente brasileira, uma de suas missões é a "ampliação do banco para outros países do Sul Global". "Isso é muito importante. Isso será feito em perfeita coordenação com o conselho de governadores", explicou. Para ela, essa expansão fortalecerá o potencial do NDB.
A adesão ao banco não representa a adesão aos Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Mas sua fala acontece um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defender a adesão da Venezuela aos Brics e enquanto, nos bastidores, se negociam os critérios e condições para que países possam se somar ao bloco dos emergentes. A Arábia Saudita e a Argentina também estariam entre os potenciais candidatos.
Outra prioridade de Dilma é a de aumentar o fornecimento de crédito em moedas locais.
"Minha principal missão é contribuir para que, primeiro, o banco se fortaleça", explicou a brasileira. Um dos mecanismos para isso é aumentar a capacidade de levantar fundos em todos os mercados, baseado em todas as moedas - dólar, euro e nas moedas alternativas dos mercados locais. "As nossas moedas, de cada um dos países", disse.
Ela também destaca que emprestar em moedas locais é uma das prioridades, lembrando que as moedas dos Brics não são conversíveis.
"Assim sendo, quando tomam emprestado, tomam em moedas que não são relativas a eles. Como o dólar ou euro. E estão sujeitos aos problemas derivados de crises, baseada em questões cambiais e sujeitos a absorver todos os choques e flutuações que possam ocorrer quando a política monetária mude de direção", disse Dilma, dando como exemplo as mudanças nos últimos meses relativas às políticas monetárias dos EUA.
Segundo ela, a operação com moedas locais permitirá dar maior resistência às empresas locais.
Questionada sobre a possibilidade de criar uma moeda única, Dilma não descartou. "Não deixa de ser uma ideia", disse. "Tem que ser considerada. O mundo está passando por transformação. Não é uma moeda contra outra. Não é discutir. Queremos somar. Vamos continuar a buscar mercado de dólar. Mas vamos considerar que é muito importante o mercado asiático e de moedas locais", afirmou.
No Brasil, o banco aportou até hoje US$ 5,9 bilhões em créditos para diferentes projetos, desde 2018. Em 2023, apenas um projeto foi financiado até agora pela instituição no Brasil, envolvendo a expansão da rede de água e saneamento em Pernambuco e no valor de US$ 202 milhões.
"Sabemos que o mundo vai transitar para moeda digital", disse Dilma, que prevê que isso pode ocorrer de forma multilateral, nos Brics ou em outro modelo. "Vai surgir uma multilateralidade de moedas. E acho que vai surgir essa moeda digital. Se tiver isso, vários países usarão para o comércio", prevê.
Segundo ela, a tendência do uso de moedas locais ganhou força depois da crise financeira de 2008 e da regionalização do comércio. Dilma ainda destaca como chineses e sauditas também já fecharam um acordo para permitir que o comércio do petróleo do maior exportador de combustível do mundo ocorra em yuan.
Em 1945, lembrou a ex-presidente, foi um acordo entre os americanos e sauditas para comprar petróleo em dólar que ajudou a moeda dos EUA a ser hegemônica. "Hoje, há outra situação", disse.
Dilma critica governança internacional
Dilma ainda criticou o fato de que, nos últimos anos, as decisões tomadas pelo G20 após a crise de 2008 não foram implementadas. O resultado, segundo ela, foi a volta da instabilidade, com alta alavancagem, especulação e baixa qualidade de supervisão bancária.
Segundo ela, os bancos americanos seriam vítimas desse cenário. "Se isso vai ser crise de crédito, está para ser visto. Mas tem efeito complexo sobre outras economias", alertou. No caso dos emergentes, o impacto seria "grave", com hiperinflação e crise da dívida.
Para a ex-presidente brasileira, há ainda uma crise de confiança nos organismos internacionais e uma necessidade urgente de reforma da ONU.
"A Carta da ONU precisa ser respeitada", disse. "Mas o que vemos é que a ONU não tem capacidade de se posicionar diante dos conflitos geopolíticos", alertou.
Ela ainda lembrou da "situação terrível" que atravessa Cuba. "Por 60 ano, a pequena ilha de Cuba é sancionada. Por 40 anos, a ONU vota contra as sanções. E nada foi feito", lamentou.
"Precisamos uma melhoria de governança, para ser respeitada. A OMS precisa ser respeitada. Vimos na pandemia. Vimos isso no caso das vacinas, que não chegaram", insistiu.
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