ONU conclui que Rússia cometeu crimes de guerra e tortura generalizada
No momento em que o governo de Vladimir Putin intensifica seus ataques contra o território ucraniano, a ONU conclui que as forças armadas do Kremlin cometeram "crimes de guerra" e "tortura sistemática, contínua e generalizada" ao invadir o país vizinho. A denúncia ainda aponta para o uso de violência sexual contra mulheres de 19 a 83 anos de idade por parte dos soldados russos. O grupo não descarta que tais violações possam ser consideradas como crimes contra a humanidade.
As conclusões fazem parte de um informe que foi apresentado nesta segunda-feira no Conselho de Direitos Humanos da ONU e elaborado pela Comissão de Inquérito sobre a Ucrânia, criada pelo mesmo órgão. A diplomacia russa sequer estava na sala quando as conclusões foram lidas. Os membros da equipe de investigação também explicaram que, apesar das tentativas de diálogo com as autoridades de Moscou, o Kremlin não deu respostas a nenhum dos pedidos da comissão por explicações ou dados.
A investigação constata que:
Há evidências contínuas de que as forças armadas russas estão cometendo crimes de guerra na Ucrânia, incluindo ataques ilegais com armas explosivas, ataques que prejudicam civis, tortura, violência sexual e de gênero e ataques à infraestrutura de energia.
O presidente russo, Vladimir Putin, já havia sido denunciado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, levando o procurador da corte a pedir sua prisão. A queixa se refere especificamente às violações cometidas contra crianças, deportadas para o território russo.
No caso do novo informe, suas conclusões não significam que haverá uma nova sanção imediata sobre os russos. Mas amplia a pressão política sobre os russos.
Os novos dados também constrangem os países aliados ao Kremlin, que justificam que as acusações até agora eram feitas apenas por governos ocidentais. O trabalho dos inspetores é feito de forma independente.
Desde sua criação, os membros da comissão viajaram mais de dez vezes para a Ucrânia. No decorrer de suas investigações, seus membros e investigadores se reuniram com autoridades governamentais, organizações internacionais, sociedade civil e outros grupos.
Para o governo ucraniano, o informe revela a necessidade de que os responsáveis pelos crimes sejam processados e punidos. Os governos dos países bálticos também defenderam que não haja impunidade diante das violações, enquanto a União Europeia condenou a invasão russa e alertou que os dados sobre tortura possam significar "crimes contra a humanidade".
Nesta segunda-feira, durante a apresentação das conclusões ao Conselho de Direitos Humanos em Genebra, a comissão informou que havia documentado ataques com armas explosivas a prédios residenciais, uma instalação médica funcional, uma estação ferroviária, um restaurante, lojas e armazéns comerciais.
"Esses ataques causaram mortes de civis, danos ou destruição de instalações importantes e a interrupção de serviços e suprimentos essenciais", disse o presidente da comissão, Erik Mose. Ele lamentou ainda que os ataques que afetam civis e instituições médicas continuem ocorrendo.
Segundo o informe, a comissão também está investigando a causa da ruptura da barragem de Nova Kakhovka e seu impacto sobre a população civil.
Tortura, violência sexual e possíveis crimes contra a humanidade
Um dos principais aspectos do levantamento é a constatação de que, em Kherson e Zaporizhzhia, os russos têm feito um "uso generalizado e sistemático de tortura contra pessoas acusadas de serem informantes das forças armadas ucranianas". "Em alguns casos, a tortura foi infligida com tamanha brutalidade que causou a morte da vítima", afirma o documento.
A equipe agora investigará esse fenômeno para determinar se podem ser considerados como crimes contra a humanidade.
Na condição de anonimato, uma vítima que sofreu tortura por meio de choques elétricos declarou:
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberToda vez que eu respondia que não sabia ou não me lembrava de algo, eles me davam choques elétricos... Não sei quanto tempo durou. Parecia uma eternidade.
A investigação ainda revela que, na região de Kherson, soldados russos estupraram e cometeram violência sexual contra mulheres com idades entre 19 e 83 anos, segundo a Comissão.
"Frequentemente, os membros da família eram mantidos em um cômodo adjacente, sendo, portanto, forçados a ouvir as violações que ocorriam", descreve o texto.
Deportação de crianças
Um dos destaques ainda do informe se refere às transferências de menores desacompanhados pelas autoridades russas para a Federação Russa. "A Comissão lamenta a falta de clareza e transparência sobre a extensão total, as circunstâncias e as categorias de crianças transferidas", afirma.
"A Comissão também está preocupada com as alegações de genocídio na Ucrânia. Por exemplo, parte da retórica transmitida pelo Estado russo e por outras mídias pode constituir incitação ao genocídio. A Comissão continua suas investigações sobre essas questões", alertou.
Para os membros da Comissão, diante da escala e a gravidade das violações que foram cometidas na Ucrânia pelas forças armadas russas, há uma necessidade de responsabilização.
Mas também alertam que os ucranianos devem investigar e punir "os poucos casos de violações cometidos por suas próprias forças".
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