Jamil Chade

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ONU deveria agradecer aviso, diz Israel; palestinos pedem pausa humanitária

O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, lançou um duro ataque contra as Nações Unidas e afirmou hoje que a entidade deveria agradecer ao governo israelense pelo alerta sobre a evacuação de parte da Faixa de Gaza — o Exército israelense ordenou que a população deixe a região norte do território nesta sexta-feira.

O comentário revela a profunda crise que se instaurou entre o governo de Benjamin Netanyahu e a ONU, momentos antes da reunião extraordinária do Conselho de Segurança para lidar com a crise no Oriente Médio. O encontro será presidido pelo chanceler brasileiro Mauro Vieira.

Por conta de uma profunda diferença de posições entre governos, a reunião será uma vez mais realizada a portas fechadas.

Uma das esperanças é de que o formato permita que haja um maior espaço para um acordo sobre a criação de um eventual corredor humanitário. Mas entre diplomatas estrangeiros consultados pelo UOL, as expectativas não são elevadas diante da nova realidade imposta por Israel.

"Vivemos o momento mais escuro desde o Holocausto", justificou o embaixador israelense, descrevendo o Hamas como "monstros" e comparando o grupo extremista aos nazistas.

Segundo Erdan, o ataque de Israel contra Gaza "não é revanche". "Apenas estamos garantindo que o que vivemos nunca mais ocorra. Se não formos bem sucedidos, o mundo todo pagará um preço elevado", disse.

Críticas à ONU

O diplomata não mediu palavras para atacar a cúpula da ONU, que vem denunciado Israel por sua atitude contra a população palestina e alertou que os atos podem constituir crimes de guerra.

Na quinta-feira (12), uma carta do embaixador para a entidade pediu que uma parcela da população palestina fosse removida do norte da Faixa de Gaza em um prazo de 24 horas, num sinal de que uma operação terrestre estaria prestes a ocorrer.

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A medida afeta 1,1 milhão de pessoas, e a ONU denunciou a iniciativa, alertando que seria "impossível". Agências como a OMS e a Unicef também fizeram apelos para que Israel desista da operação.

Para Israel, esse gesto da ONU vai no "sentido contrário" de sua missão de salvar vidas.

"Agora, o Hamas vai depender da ONU para sair à sua ajuda", disse Erdan, ironizando o fato de que o gesto das Nações Unidas poderá garantir a sobrevivência do grupo.

"A ONU deveria nos agradecer pelo alerta", insistiu. "Mas, por anos, ela colocou sua cabeça debaixo da areia, enquanto o Hamas se armava", declarou. "E agora que fizemos o alerta (para evacuação), a ONU prefere condenar essas medidas. Isso é um absurdo", afirmou o embaixador.

Segundo ele, a ONU mostra sua "indiferença" diante dos ataques contra israelenses e não quer que o país se defenda.

Para o embaixador, a reunião do Conselho de Segurança deve se focada apenas na recuperação dos reféns que o Hamas fez entre os israelenses. Em sua avaliação, esse é um "momento chave" do órgão, que "precisa decidir" se estará ou não ao lado de Israel.

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A visão é bem diferente entre a delegação palestina. Nesta sexta-feira, as autoridades palestinas pediram que o Conselho de Segurança da ONU estabeleça uma "pausa humanitária" para que civis possam ser atendidos ou que deixem a Faixa de Gaza. A mensagem foi passada por Riyad Mansour, embaixador palestino nas Nações Unidas.

Reunião do Conselho de Segurança

O Conselho se reúne nesta tarde em Nova York, sob a pressão internacional diante da possibilidade de uma invasão terrestre por parte de Israel em Gaza.

Para a ONU, isso criaria uma situação "calamitosa", enquanto o secretário-geral da entidade, Antonio Guterres, realiza contatos com governos da região e com potências para evitar o que muitos temem que poderia ser uma crise humanitária de proporções inéditas.

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